É na igreja do Convento do Beato que estão os restos mortais de Violante Andrade, a ama por quem Camões se apaixonou e que lhe marcou a vida. Fica na Alameda do Beato, em Lisboa.
Violante Andrade era casada com o Conde de Linhares e, na interpretação de José Hermano Saraiva, teve um caso amoroso com Luís de Camões, em Coimbra, que marcou para sempre a vida do poeta.
Ainda na opinião de José Hermano Saraiva, a antiga capela onde se encontram as sepulturas de várias gerações dos condes de Linhares é, “em todo o país, o lugar com mais reminiscências de Camões”. Porque é onde está a apaixonada de Camões, amigos, jovens com quem conviveu e que tiveram o infortúnio de morrer em Ceuta. Só falta uma das filhas de Violante, por quem Camões também se apaixonou e que terá morrido numa viagem marítima. Gente que ficou imortal nos Lusíadas e na lírica de Camões.
No entanto, tudo ficou ao abandono. O fim das ordens religiosas em 1835 foi o início do abandono e descaracterização do edifício e do panteão. “Havia sepulturas. Umas estavam nas paredes outros no chão. Um dia meteram umas máquinas a limpar e a deitar abaixo o que por lá havia. Foi tudo. Ficou uma garagem. Os mármores bonitos desapareceram. Eu sei porque uma vez uma parede traseira caiu e também os corpos que estavam emparedados. Eu tinha 6 ou 7 anos e fui ver. Estavam esqueletos que depois foram apanhados. Eu vi os nomes das pessoas enterradas no chão. Estavam escritos em Latim. Agora está sempre fechado. Não há nada no interior”. A descrição é de Elvira Rodrigues vizinha da igreja onde está o panteão dos Condes de Linhares.
Elvira Rodrigues vive há cerca de 80 anos nesta casa e assistiu a uma parte importante da transformação do edifício. Passou a armazenar cereais e laboração de malte para cerveja. Nos últimos anos foi o total encerramento das instalações.
Resta a porta que Elvira Rodrigues e José Hermano Saraiva dizem que ainda é a original, do início do século XVII. “A porta tem tido vários consertos e mantém-se de forma razoável. Ao contrário de algumas janelas. Os claustros foram bem conservados. A capela não, o que é uma pena”.
A capela-mor foi terminada em 1622 e na altura era a mais alta de Lisboa.
O panteão da família dos condes de Linhares foi mandado construir por uma filha de Violante e também completou o sonho do frei António da Conceição que ganhou fama na corte e entre o povo, desde o rei D. Sebastião à plebe que o adorava.
Quando morreu três vezes tiveram de lhe vestir o hábito porque o povo o deixava nu ao arrancar pequenas tiras de pano como relíquia. O local ficou consagrado como Beato e essa designação chega aos dias de hoje como também o nome de Convento do Beato.
Resistiu ao tremor de terra de 1755 mas não a um incêndio no final do século XVIII. A fachada da capela é também a original mas está degradada.
É muito alta e marca o fecho da Alameda do Beato, com vários jacarandás e que tem início no lactário nº4 que em breve poderá ser desaparecer.
A capela tinha duas torres mas foram demolidas quando o edifício foi comprado por um industrial na sequência da extinção das ordens religiosas. A igreja foi saqueada, ficou ao abandono e depois de vendida foi transformada para armazém de cereais e fabrico de malte.
Foram construídos três pisos entre santos e altares. A arquitetura religiosa foi substituída por arquitetura industrial. Nem de propósito, o forno ficou no altar mor onde está o panteão da família dos condes de Linhares.
O conjunto do Convento do Beato está classificado como Imóvel de Interesse Público, durante muitos anos pertenceu ao grupo Cerealis que recentemente vendeu a um grupo imobiliário suíço (Larfa Properties). As obras para um condomínio já começaram.
Da família dos Condes de Linhares há ainda a registar em Lisboa a grande propriedade que detinham próximo do Campo das Cebolas. Segundo José Hermano Saraiva, ficava entre a Rua de São João da Praça, o Pátio do Marquês do Lavradio e a Travessa do Arco a Jesus.
Parte da construção ainda resiste como também o arco e que antes se chamou postigo do Conde de Linhares. Curiosamente as escadas davam acesso a uma praia fluvial.
Nem a morte serenou a amada de Camões faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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