Os de Penamacor dizem que é o maior madeiro de Portugal. Sentem orgulho e até estão a preparar uma candidatura a património imaterial da humanidade junto da UNESCO.

O madeiro é uma tradição da Beira, talvez de origem celta, e no século passado esteve associado ao serviço militar obrigatório. Era organizado por jovens que iam à inspeção ou quando começavam a tropa, como é o caso de Penamacor.

Em todas as situações funcionava como um ritual de passagem para a idade adulta.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=lBvbgDOMtDg&w=560&h=315]Quem realiza o madeiro são os jovens que fazem 20 anos. Inicialmente eram apenas os rapazes. Agora juntam-se as raparigas porque até já podem fazer o serviço militar.

Como gesto de afirmação de maioridade os jovens não queriam estar na dependência da vontade de outros. O madeiro era roubado. Identificavam o local e na noite de 7 para 8 de Dezembro cortavam as árvores e transportavam-nas em carros de boi para o centro da vila.
O madeiro foi sempre de sobreiros que nesta região é designado no género feminino: sobreiras.

Esta tradição do corte e do transporte mantém-se e constitui o primeiro ponto alto do madeiro. Durante a noite há uma festa no recinto da Senhora do Incenso onde a madeira é recolhida. É uma festa improvisada com muito caldo verde oferecido pelo grupo organizador. Habitualmente há música.

No dia 8 de Dezembro são cerca de duas dezenas de tratores que fazem um desfile com o transporte das sobreiras para o adro da igreja. Dia 8 é feriado religioso – Imaculada Conceição – e as pessoas ficam a aguardar a chegada do madeiro no final da missa.

O largo da igreja não é muito grande e é preciso perícia e trabalho para montar o madeiro com vários troncos enormes de sobreiras. É uma operação que demora toda a tarde e costuma prolongar-se pela noite.

O madeiro fica em exposição até dia 23, mesmo junto à estrada.
Na noite de 23 para 24, à meia noite, é ateado o fogo e com frequência os bombeiros lançam jactos de água para controlar as chamas porque o madeiro fica mesmo ao lado da igreja.

É nesta altura que se juntam milhares de pessoas. Muitos são visitantes.
As árvores do madeiro já estão no final do seu ciclo de vida. Estão doentes e para abate. Por outro lado, nos último anos e por impulso da Câmara Municipal há um processo de plantação de novas sobreiras e em número muito maior às que são cortadas.

Além de renovarem as sobreiras é outra forma de garantir a continuidade da tradição.
Pelo que conta Ilidia Cruchinho, que na Câmara Municipal há vários anos acompanha a organização do madeiro, há uma forte motivação dos jovens em continuar com o madeiro, mesmo que o contexto do serviço militar obrigatório já se tenha alterado.

“Estão ansiosos que chegue o ano deles porque querem afirmar-se. Mostrar o seu contributo junto da comunidade”.
Visitar outro património
A visita a Penamacor ao madeiro pode ser complementada com um roteiro pela vila.

Tiago Alves pertence a uma empresa que organiza visitas a lugares históricos de Penamacor, Amarcor, sugere três locais para quem tem pouco tempo: o castro medieval que está ainda relativamente bem preservado e tem vestígios da presença judaica.

No interior da vila há várias estruturas relacionadas com a guerra da Restauração como são exemplo os baluartes e o ex-libris que é o Convento de Santo António.
É neste convento que no decorrer dos festejos se realiza uma das três visitas guiadas e encenadas promovidas pela Câmara Municipal. Conta André Oliveirinha que o objectivo é dar a conhecer o património da vila de uma forma mais didáctica. Por exemplo, no “edifício fantástico” que é o Convento é dado o conhecer o património artístico e arquitectónico e a vida conventual com dois monges franciscanos. No final há um concerto com música instrumental da época.
Os outros temas de visitas guiadas e encenadas são “Penamacor medieval” e “Figuras factos e lugares”.

O madeiro de Penamacor já não vai à tropa faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, O madeiro de Penamacor já não vai à tropa, pode ouvir aqui.
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