O Museu João Mário em Alenquer tem cerca de 800 obras em exposição e muitas delas são de pintores relevantes nacionais e estrangeiros, além de pinturas do próprio João Mário.
Há um traço comum e é impositivo. Todas as pinturas têm de ser figurativas. “Nos últimos anos este tipo de pintura está um pouco posta de parte e não tem grande atenção de organismos oficiais.
Eu fiz isso de propósito, para destacar este tipo de arte. Tenho por vezes algumas ofertas, embora a maioria das aquisições é por troca e só aceito quadros de expressão figurativa”.
O pintor João Mário não abre exceções e às várias salas do museu são testemunho disso. Na visita podemos ver trabalhos figurativos de Almada Negreiros, Silva Porto, José Malhoa, entre outros, e também desenhos do rei D. Carlos e de Columbano Bordalo Pinheiro.
O edifício tem vários pisos e algumas salas estão reservadas para exposição de trabalhos do pinto João Mário. Ilustram o seu percurso como artista e a sua paixão pela paisagem de rua, como ele próprio refere quando lhe peço para fazer o seu auto-retrato.
“Nunca fui um aluno extraordinário porque era só pintura, pintura… O retrato seria de alguém apaixonado, desde sempre, pela pintura e um louco por paisagem de rua, não só rústica como urbana. Gosto muito do ar livre e especialmente de transmitir a luz para os quadros”.
João Mário acrescenta que o aspeto sensorial, a vivência do lugar ou da situação é determinante para a sua expressão criativa, porque é “incapaz de pintar um quadro a partir de uma fotografia de um local onde nunca estive. Tenho que respirar aquele oxigénio, aquele clima.”
Talvez este desejo pela pintura ao ar livre tenha, desse cedo, traçado o seu percurso pessoal e artístico e, ao mesmo tempo, terminado com um dilema “entre ser arquiteto ou pintor. Desde muito cedo que adorava pintar”. Ainda amador e sem formação académica pintou um quadro que esteve numa exposição coletiva na Escola de Belas Artes. O quadro ganhou um prémio, que foi entregue pelo Presidente da República de então. “Fiquei todo inchado e decidi ser pintor.
Passei a frequentar a Escola de Belas Artes e não acabei o curso porque não quis. Eu gostava de ar livre, paisagem e sol e nas Belas Artes era nu e natureza morta… Não gostei, saí e arranjei um mestre fantástico, que foi a sorte da minha vida, porque me ajudou em tudo.
Não só no plano pictórico, mas também intelectual. Álvaro Duarte de Almeida era um pintor de ar livre, de rua. Onde hoje é o Aeroporto de Lisboa nós íamos para lá pintar. Foi aí que comecei e nunca mais parei.”
A criação do museu tinha como propósito inicial ser apenas uma galeria mas acabou por ter um número tão grande de visitantes que o projeto ganhou uma dinâmica que passou a ser administrado pela Câmara Municipal de Alenquer desde 2009.
No entanto, quando de visitas agendadas, José Mário tem o prazer de acompanhar os visitantes, “sempre que me for possível.
Podem agenda através da Câmara, do Turismo ou do telefone do Museu. É extraordinária a reação das pessoas e isso, digamos, é o meu retorno. Não do ponto de vista comercial porque nestes 20 anos do Museu nunca vendi aqui um quadro meu, nem quero. A minha satisfação é que as pessoas saem daqui muito satisfeitas e algumas voltam, o que é um testemunho que gostaram.”
Também é uma experiência rara podermos ver dezenas de pinturas com o autor ao nosso lado, ou trabalhos de outros pintores com os quais narra o seu relacionamento ou o contexto artístico. Mais ainda, porque a excelente capacidade de comunicação e a alegria de vida não se exprime apenas na pintura figurativa.
Museu João Mário e da pintura figurativa faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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