O fim da II Guerra Mundial é todos os anos evocado em Benfeita, uma aldeia do concelho de Arganil.
Foram 1620 os dias da Segunda Grande Guerra e são também 1620 as badaladas que são tocadas um pouco antes das 15h na Torre da Paz, uma estrutura de xisto que se destaca no meio da encosta da serra do Açor e que foi construída para assinalar o fim da guerra.
Conta Artur Costa, residente em Benfeita, que “no dia em que terminou a guerra, em 1745, a torre ainda não estava pronta nem tinha o relógio.
Foi à mão que tocaram as badaladas”. A torre estava em construção há algum tempo “e encontrava-se na fase final porque já se falava no Armistício, conforme veio a suceder.”
Artur Costa tem um pequeno comércio muito próximo da Torre e também ajudou a tocar o sino em 7 de maio de 1945. “Tinha 12 ou 13 anos e ainda lá fui tocar. Quando acabou a guerra foi um pandemónio aqui na Benfeita. Fizeram uma festa. Vários homens reuniram-se arranjaram cabritos e fizeram uma pândega, foi uma festa do diacho.” Nos últimos anos o ambiente tem sido muito diferente. “Agora não, já não é tanto. Para já, há pouca gente e já não há o interesse por estas coisas como havia antigamente. Hoje não dão tanto valor a essas coisas como davam naquele tempo.”
Benfeita faz parte das aldeias de xisto e a torre é um dos melhores exemplos da sua utilização. A cor escura do xisto destaca o relógio que tem um mecanismo complexo, mas nunca falhou. “Toca todos os anos, é preciso é dar-lhe corda. É um relógio mecânico, antigo, e é preciso dar-lhe corda e estando tudo certinho, ele não esquece.”
O mecanismo do relógio tem muitas rodas dentadas e em algumas fizeram inscrições com vários mensagens, como por exemplo “bendigamos a paz”. Os pesos são grandes e de granito.
No topo da torre podemos ver um bonito catavento com vários ícones. Um deles é a pomba, símbolo da paz.
A torre foi está próxima de duas capelas, quase colada com a de Santa Rita e uns metros ao lado a do Senhor do Passos, e foi construída em 1945 por iniciativa de Mário Mathias, jurista e natural de Benfeita.
Segundo a descrição de Artur Costa o responsável pela construção da torre “teve vários cargos. Esteve no Governo, no Ministério do Interior, era natural da Benfeita e muito amigo da terra. Foi também um diplomata conhecido, mais o irmão, e lembrou-se da torre para assinalar o fim da Guerra Mundial”.
Mário Mathias regressou depois à Benfeita onde foi presidente da Junta de Freguesia durante 11 anos.
Além da torre, Benfeita tem o museu Simões Dias e casas de xisto, muitas caiadas de branco, por entre ruas estreitas e sinuosas que decoram a encosta da serra.
O casario é atravessado pela ribeira da Mata, que se funde com a ribeira do Carcavão, vizinha da Torre da Paz. O vale onde está a aldeia tem muitas sombras, é ponto de passagem de turistas e no verão podem refrescar-se na praia fluvial.
Benfeita é também porta de entrada para alguns dos lugares mais espetaculares desta zona do concelho de Arganil. A mais conhecida é Fraga da Pena. Está na zona protegida da Serra do Açor e o local mais conhecido é uma cascata de 20 metros por onde cai água muito fria. Toda a envolvência é de um espaço densamente arborizado da Mata da Margaraça.
Na freguesia de Benfeita há ainda pequenas aldeias no meio da Serra do Açor que mantêm a arquitetura tradicional. Talvez a que mais se destaca com as casas de xisto é o Sardal.