Os relatos de viagens estão cheios de hipérboles e uma das inspirações é em Algodres. Estamos a 700 metros de altitude, no topo de uma encosta, e o miradouro do alto da vila é uma das varandas com melhor vista para a serra da Estrela.
O granito domina no casario. Na construção das casas e nos penedos enormes que na encosta separam a parte mais recente da povoação da zona histórica.
O granito é também a matéria que deu forma à igreja Matriz, à igreja da Misericórdia e ao mais que elogiado pelourinho na esplanada de um café local: “em Portugal não há outro pelourinho igual àquele, devido à altura, estatura e ao tempo em que foi feito. Falta-lhe a coroa que partiu. Tem uma altura que é uma coisa maluca.” Com esta descrição pergunto se a coluna é de um só pedra, “só uma pedra, não tem emendas em lugar nenhum. Deve ter 10 ou 15 metros. Tem cerca de seis balcões em volta para se subir lá. É tudo pedra. Algumas até já estão gastas. Os sapatos desgastaram as pedras de tanta gente subir. Não há outro, eu nunca ouvi, pronto, acabou-se.”
O pelourinho tem, de facto, seis degraus octogonais mas a altura é de 5 metros e o que mais se destaca é a gaiola, no topo da coluna. É uma marca manuelina que assinala a renovação do foral por D. Manuel em 1514.
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O pelourinho foi restaurado há cerca de 30 anos e está classificado como Imóvel de Interesse Público.
O pelourinho está no centro da praça mesmo em frente da igreja Matriz. Quem o observa em permanência é o algodre que está esculpido na parede da igreja.
A tradição oral diz ser o busto de um antepassado da vila.
Uma outra referência histórica é dada pelo historiador José Hermano Saraiva.
É sobre um quadro que foi encontrado na igreja da Misericórdia que está mesmo ao lado e também classificada como Imóvel de Interesse Público. No quadro está o retrato de Violante Andrade, uma das paixões de Camões.
A pintura foi restaurada recentemente e está ao lado do altar mor que tem um trabalho minucioso em talha dourada. Nas paredes há várias pinturas e Jesus Cristo está representado em duas figuras à escala humana. O Senhor dos Passos e Cristo deitado num compartimento fechado na parte mais baixa do altar-mor. Quando visitei a capela já não estava o Senhor da Cana que, segundo uma habitante de Algodres, estava junto à porta e quando era garota assustava-se “porque parecia um homem”.
O largo do pelourinho e das igrejas é o ponto de confluência de várias ruas com casas de traça antiga. Algumas ainda preservam os alpendres de madeira e o balcão de pedra. Há também algumas casas recuperadas e numa zona mais alta destaca-se uma casa apalaçada. Em todo o lado há plantas nas varandas, junto às portas ou nos logradouros.
Algodres terá tido um castelo mas não se sabe bem a sua localização. Admite-se que tenha sido no lugar onde está a igreja da Misericórdia e aproveitaram as pedras da fortaleza para a sua construção.
Algodres deu o nome a esta região e a sua origem é muito remota. Em todo o concelho há vários monumentos megalíticos e Algodres também tem alguns e sigo mais uma vez a conversa no café: “temos a Casa da Orca, lá em cima, ainda é longe. Havia também a Lapa da Negra mas quem é que lá vai! Tinham lá sertãs, os penedos dos mouros. Agora está tudo metido no meio do mato.”
A Lapa da Negra está associada a uma lenda das Invasões Francesas e o espaço serviu de refugio à população local.
Ver ainda os blogues Terras de Algodres e Algodres
Um última referência a Cultura material da aldeia de Algodres entre a antiguidade tardia e alta idade média de Tiago André Simões Pereira, publicado em Paisagens, Patrimónios e Turismo Cultural
Algodres tem um pelourinho “com uma altura que é uma coisa maluca” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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