D. Afonso Henriques foi um dos utilizadores das Termas de S. Pedro do Sul, ou Banho, como na altura se chamava. Correu mal uma batalha e procurou as águas de Banho para resolver, ou atenuar, as sequelas da fratura de um fémur.
Afonso Henriques teve um acidente com um cavalo em Badajoz quando, com Geraldo Sem-Pavor, tentava conquistar esta praça importante.
Era uma incursão com risco elevado, mesmo no plano familiar. O rei português tinha assinado um acordo que Badajoz seria pertença do rei de Leão, seu genro. Mesmo assim avançou, numa estratégia que alguns historiadores assemelham a uma permanente “guerrilha”. Mas, não correu bem. Com o apoio do muçulmanos D. Fernando II venceu o rei português naquela que terá sido a maior derrota do “Conquistador”.
Esteve preso durante dois meses e o genro exigiu resgate em dinheiro e a devolução de alguns territórios que D. Afonso Henriques conquistou ao reino leonês em escaramuças fronteiriças.
Outra consequência da incursão em Badajoz tem a ver com a lesão sofrida. O rei português partiu o fémur direito e nunca mais recuperou. Tinha 60 anos de idade.
Ficou impedido de montar a cavalo e há quem questione se podia caminhar com autonomia. A cura da fratura e o alivio das dores, após a sua libertação, foi nas antigas termas romanas de S. Pedro do Sul.
O complexo termal, nos edifícios modernos, ainda hoje é utilizado para efeitos de fisioterapia.
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O tratamento termal do rei foi em Novembro e Dezembro de 1169, há pouco mais de 850 anos. “D. Afonso Henriques veio procurar alívio para essa fratura na perna no Banho. À época era esse o nome da povoação, provavelmente relacionado com o ‘balneum’ romano.”
Na informação recolhida e que nos é relatada por Nuno Eduardo, o rei “reuniu aqui a cúria régia. É através de documentos destas reuniões magnas de Portugal, no século XII, que nós temos conhecimento da presença de D. Afonso Henriques nestes banhos. Um dos documentos precisa que o rei esteve aqui depois da batalha de Badajoz.”
Nuno Eduardo é um profundo conhecedor da história das termas romanas, faz a visita guiada e foi ele que nos mostrou a piscina D. Afonso Henriques. Fica no interior do edifício que foi, entretanto, recuperado. Terá sido aqui que o rei Fundador aproveitava os efeitos curativos da água termal que sai da nascente a uma temperatura natural de 68 graus. O tanque tem uma dimensão razoável, está inserido num conjunto de pedra, num ambiente a meia luz e ouve-se o correr da água.
No presente a diferença é que a água não é quente. No restante é muito parecido com o tempo em que foi usado por D. Afonso Henriques e até ao milénio anterior, quando foi construído pelos romanos há dois mil anos. “Atualmente temos a correr nas piscinas água não termal. Mas, todas as canalizações estão preparadas para receber água termal. A água é captada na nascente principal e vem até um tanque de arrefecimento. Nos banhos antigos, a água que ia para esse tanque iniciava um processo de arrefecimento e depois transitava a água quente para as piscinas interiores. A piscina exterior, que é a romana, ao que se supõe, era para banhos de água fria.”
A piscina exterior está ao lado do edifício com vista para a margem esquerda do rio Vouga. A piscina é um dos vestígios romanos que foram preservados com a requalificação da estrutura, mas há outros, igualmente relevantes.
“Um dos mais significativos é uma parede inteiramente romana. Desde os alicerces até ao telhado. São oito metros de parede com dois mil anos. Também a piscina exterior e a reconstrução das colunas monumentais. Uma delas foi reconstruída com as peças originais. As restantes incorporam o que se recuperou com peças de reconstrução. Destaco também a reconstrução da cobertura da chamada Piscina D. Afonso Henriques que é uma cobertura em berço e representa o que seria a cobertura em período romano.”
Devido aos materiais, à arquitetura e à volumetria, rapidamente se percebe que toda a estrutura é marcadamente romana “e tem duas fases em termos de construção. A primeira é no século I e uma segunda fase, já no século II, com a construção de um segundo balneário romano.” Ainda na explicação de Nuno Eduardo, “ao longo destes dois mil anos continuou a ter ocupação.
Do período da Alta Idade Média o principal legado é a capela de S. Martinho do Banho, que se encontra na área arqueológica deste espaço. Passou também por todas as fases mais importantes da monarquia portuguesa.”
De certa forma, as alterações nas Termas correspondiam a momentos políticos e económicos determinantes e também a costumes que se foram modificando ao longos dos últimos séculos. “No período venturoso do rei D. Manuel I, nessa fase esplendorosa da monarquia portuguesa, realizaram-se várias reconstruções e o balneário foi convertido no Real Hospital das Caldas de Lafões, no século XVI. Perdeu os seus usos medicinais no final do século XIX.
Ao longo do período republicano continuou a ter ocupação. Foi escola primária, bar, café e arrecadação. Em 1995 umas cheias fizeram ruir uma parte das paredes romanas deste Monumento Nacional, classificado desde 1938.
Em boa hora a Câmara Municipal de S. Pedro do Sul decidiu juntar vontades com o Ministério da Cultura e elaboraram um projeto de reconstrução arquitetónica do interior e do exterior.”
A construção acompanha o declive de uma encosta em direção ao rio Vouga.
Num ambiente sereno, com algumas árvores, e com a capela a servir de lugar de culto. Está quase sempre com gente que vai colocar velas e fazer uma oração.
Um pouco mais à frente é maior o movimento. Conforme nos aproximamos do centro, do bonito balneário Rainha D. Amélia que também recorreu às Termas de S. Pedro do Sul. Para ser mais preciso, na altura eram as Caldas de Lafões. Depois, com a passagem da rainha, mulher de D. Carlos, passaram a ser designadas por Caldas da Rainha D. Amélia.
Com a República foram rebatizadas com o nome atual, Termas de S. Pedro do Sul.
Termas Romanas de S. Pedro do Sul – onde o fundador de Portugal foi ao Banho faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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