O Mosteiro S. Vicente de Fora é um dos edifícios mais emblemáticos de Lisboa. Em conjunto com a igreja marcam a nossa nacionalidade e, nos dias de hoje, além da beleza da arquitetura, tem um património fantástico. site_lx_alfama_0566Até tem o tumulo de uma rainha de Inglaterra que pouco se destaca no panteão Real da Casa de Bragança, a quarta dinastia. Mas, há muito mais para visitar e que corresponde a vários perfis. site_sVicente_fora_exterio_7102“Temos os visitantes que chegam e ficam encantados, por exemplo, com a paisagem. Outros ficam com a quantidade de azulejos. Somos um dos monumentos do mundo com mais azulejos colocados em local original. Há outros que ficam perplexos em encontrarem aqui o panteão dos Bragança, praticamente toda a nossa quarta dinastia, entre outras exposições.

Sacristia com paredes revestidas com mármores embutidos.
Sacristia com paredes revestidas com mármores embutidos

Temos a galeria dos patriarcas, exposições de conchas, arqueologia, arte sacra, uma sacristia com paredes revestidas com mármores embutidos. Têm muito por onde explorar.”

site_joana_santos_7012O edifício é também a sede do Patriarcado e Joana Santos é a coordenadora do Mosteiro.
Ela própria também se deslumbra com o terraço da igreja onde “temos um dos melhores miradouros de Lisboa.
site_convento_svicente_fora2gÉ um miradouro de 360º e atrai muitas pessoas. Podemos ver as duas pontes de Lisboa. Tem uma vista espetacular do Panteão que está ao lado ou para o castelo. Há por vezes sessões fotográficas no terraço.
site_convento_svicente_fora2pNo lado Este da cidade este é o único ponto alto onde se consegue observar a colina deste lado do castelo.” Além de ser um excelente ponto de observação, também é uma referência na paisagem de Alfama.
site_lx_alfama_por_sol_DSCF5314“Nós conseguimos ver melhor o edifício longe do que ao estar aqui. Por exemplo, se estivermos nas Portas do Sol (próximo do Castelo) temos a noção do volume deste edifício que é imponente nesta zona da cidade.”

Na verdade, das Portas do Sol o Mosteiro ganha uma relevância enorme pela sua dimensão e pela cor clara que sobressai no colorido do casario da colina de Alfama que espreita o castelo de Lisboa.
Há muitos anos. “O Mosteiro de S. Vicente de Fora existe desde o tempo de D. Afonso Henriques. É resultado de uma promessa do rei caso conseguisse conquistar a cidade de Lisboa aos mouros. site_convento_svicente_fora2dCom o passar dos anos e apesar do mosteiro estar habitado, quase sempre pelos monges Regrantes de Santo Agostinho, foi ficando pouco a pouco arruinado. Ao chegar ao século XVI, com o início da terceira dinastia, D. Filipe I decidiu reconstruir o mosteiro. A ideia não era destruir o que foi mandado fazer por D. Afonso Henriques, mas sim uma forma de afirmar a sua legitimidade ao trono.”

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Cisterna

Do mosteiro medieval sobra apenas uma cisterna onde podemos espreitar e continua a ter água.
Filipe II e Filipe III dão continuidade à reformulação do edifício. No entanto, com a Restauração, surgem novas alterações. Essencialmente na decoração. “É sobretudo de estilo barroco porque a quarta dinastia sentiu a necessidade de se apropriar deste mosteiro.
site_sVIcente_fora1_hdrTentaram apagar as marcas dos Filipes e dar um cunho próprio através de azulejos, pinturas, mármores embutidos…. Escolheram ainda o Mosteiro de S. Vicente de Fora para ser o panteão da quarta dinastia.”
Esta é uma das curiosidades do mosteiro. Desde a sua origem, em 1147, foi sempre utlizado como um instrumento do poder instituído.
site_sVicente_fora_7043 A afirmação de um cunho propagandístico. Logo no seu início com D. Afonso Henriques a fazer emergir a marca cristã, após a conquista aos mouros. O marco seguinte é com os Filipes e depois com a Restauração. Pormenoriza Jona Santos que, “se formos à portaria do mosteiro e observarmos as histórias que aqueles azulejos contam, é isso que vamos encontrar. Vemos representados vários reis ligados à história do mosteiro exceto os Filipes.
site_sVIcente_fora_afons_henriques_7025 Temos outros exemplos. D. Afonso Henriques com os monges Regrantes a estudar a planta do mosteiro e por detrás, já está o mosteiro a ser construído, mas não o medieval, é o que vemos hoje. A quarta dinastia, no fundo, o que queria dizer é que quem mandou fazer este mosteiro não foram os Filipes mas o primeiro rei de Portugal”.
Para reforçar a apropriação da quarta dinastia e a marca da nacionalidade, os Bragança fizeram do mosteiro o panteão da Casa Real.
site_sVicente_fora_panteao_7073 Uma determinação que durou até à ultima família real. “Estão quase todos. Falta D. Pedro IV que em 1972 foi trasladado para o Brasil, a seu pedido, exceto o coração que ficou na igreja da Lapa, no Porto. Falta também D. Maria I que está na Basílica da Estrela que foi mandada construir por ela. Por fim, falta Maria Pia de Saboia que está em Itália.”
site_sVicente_fora_panteao_7067No século XIX, com o Liberalismo, há de novo uma alteração profunda, mandada realizar por D. Fernando II. O panteão mudou da igreja para o antigo refeitório do mosteiro porque, entretanto, os monges tinham saído com o fim das ordens religiosas. “
Tem mais a ver com uma questão de falta de espaço. Como estávamos num regime Liberal não era escandaloso termos túmulos em espaços não sagrados.
site_sVicente_fora_panteao_7077O que D. Fernando quis fazer foi também uma homenagem à sua adorada esposa. Quando D. Maria morre ele pretendia fazer um mausoléu do liberalismo onde homenageava a sua falecida esposa e o sogro, D. Pedro IV.
Houve uma série de projetos que por questões financeiras não foram concretizados. Foi por isso que se apropriaram de um monumento já existente, o Mosteiro de S. Vicente de Fora, e fizeram dele o tal mausoléu do liberalismo. É por isso, que ao centro estavam os túmulos de D. Maria II e D. Pedro IV. Hoje, se formos ao panteão vemos na antecâmara os túmulos do Duque de Saldanha, Duque e Duquesa de Terceira, heróis do Liberalismo.”
site_sVicente_fora_panteao_7072Com a implantação da República o panteão foi encerrado. “A entrada foi apenas facultada em 1932. Salazar decidiu fazer uma reformulação que esteve a cargo de Raúl Lino, conceituado arquiteto na altura. É ele que dá o aspeto que vemos hoje nos túmulos dos Bragança. Esse trabalho foi inaugurado em 1933. Foi Raúl Lino que desenhou os túmulos.” O que havia antes desta intervenção era uma sala grande com caixões acumulados, tendo ao centro D. Maria II e D. Pedro IV. De resto, era uma bancada com caixões uns em cima dos outros.”
site_sVicente_fora_panteao_7054Com a intervenção feita por Raul Lino o panteão deixou este ambiente assustador. Os túmulos em mármore têm inscrições em letra dourada e os monarcas distinguem-se de imediato com as coroas no topo.
Todos estes elementos dão alguma dignidade ao antigo refeitório, mas não tem a pompa, muito menos uma linguagem eloquente dos reis e rainhas da maior dinastia portuguesa. Por outro lado, escasseia informação aos visitantes, muitos deles estrangeiros.
site_sVicente_fora_panteao_7070“Primeiro ficam um pouco assutados porque ao centro temos uma escultura de Francisco dos Santos, representa a dor. É uma mulher com as mãos a tapar a cara. Depois, é uma sala com pedra branca, virada a Este, com um aspeto muito frio, duro, cru.”
Até o pretenso charme do ritual do chá atribuído à rainha de Inglaterra, Catarina de Bragança, passa de todo despercebido. É um tumulo que não se diferencia dos restantes.
site_sVicente_fora_panteao_catarina_7055Antes de ela falecer disse que queria ir par junto do seu irmão D. Afonso VI que, na altura, estava sepultado nos Jerónimos. Mais tarde, é D. João V que manda trasladar D. Afonso VI e D. Catarina de Bragança para o Mosteiro de S. Vicente de Fora. Não é destacada.
site_sVicente_fora_panteao_joao4_7062Aliás, neste panteão, após a reformulação de Raúl Lino, os destaques vão para o primeiro rei da quarta dinastia, D. João IV, e para a última família real. De resto, têm todos a mesma aparência, muito minimalista.”

Panteão dos Patriarcas de Lisboa
Panteão dos Patriarcas de Lisboa

No mosteiro está também o Panteão dos Patriarcas de Lisboa. O mosteiro tem ainda o museu do Patriarcado com um conjunto vasto de património onde sobressai a relação da Igreja com a cidade de Lisboa.
site_sVIcente_fora_7036Um outro património muito interessante é a coleção de azulejos considerada uma das mais belas do Mundo.Temos azulejos de vários períodos. Os mais antigos são de 1690 que correspondem ao reinado de D. Pedro II. A maioria são do reinado de D. João V. Temos azulejos do período dos grandes mestres.”
site_sVicente_fora_lafontaine_7088Um dos destaque é a coleção das Fábulas de La Fontaine. “É uma história curiosa. No final do século XVIII os dois claustros do mosteiro foram fechados. As arcadas foram tapadas com muros e para a parte interior foram encomendados painéis de azulejos. Nessa altura decidiram trazer as Fábulas de La Fontaine. site_sVicente_fora_lafontaine_7092Hoje, se formos aos claustros e observarmos os azulejos não vemos um único com uma cena religiosa, porque o claustro foi considerado um espaço exterior. O mesmo sucede com as fábulas La Fontaine que não tem cenas religiosas. Transmitem uma moral através de personagens que são animais e essa moral não vai contra o que se diz no Evangelho. Acho que as fábulas La Fontaine foi uma forma de conseguirmos ter um programa profano e que não colide com o Evangelho.”
site_sVicente_fora_7081A descoberta dos azulejos leva-nos dos claustros a longos corredores que servem de antecâmera à nossa imaginação sobre a vida dos monges neste edifício simbólico para Lisboa. Os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho estiveram aqui durante mais de 8 séculos. Até à extinção das ordens religiosas, uma decisão que teve forte impacto na rotina do mosteiro. site_sVicente_fora_7078“Desde a extinção das ordens religiosas até aos dias de hoje as ocupações do mosteiro foram muito variadas. Chegou a ser Casa Patriarcal, o primeiro Liceu Gil Vicente foi aqui, no século XX já foi IEFP, arquivo da Câmara Municipal, arquivo do Exército.
site_sVIcente_fora_7024Está classificado como Monumento Nacional. Pertence ao Patriarcado, mas, como está classificado, qualquer intervenção tem de ser reportada à DGPC.”
A igreja destaca-se igualmente com as suas duas torres sineiras. Tem uma fachada monumental que ganha maior imponência com a escadaria em pedra, hoje muito útil para as fotografias de casamento com todos os convidados.
site_convento_svicente_fora4A singeleza e a geometria de linhas retas é incongruente com a graciosidade do arco na rua que permite o acesso ao Campo de Santa Clara onde tem lugar a Feirada Ladra.
oportunidade de verem um dos melhores órgãos de todo o Muno com mais de 3 mil tubos distribuídos por dois teclados.
site_sVicente_fora_6985Da enorme riqueza da igreja destaca-se o altar de estilo barroco da Capela-mor e um dos melhores órgãos de todo o mundo com mais de 3 mil tubos distribuídos por dois teclados.
Realizam-se visitas guiadas ao Mosteiro de S. Vicente de Fora. Pode obter mais informação aqui
site_sVicente_fora_7005Portugal dentro do Mosteiro de S. Vicente de Fora e no terraço um dos melhores miradouros de Lisboa faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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