O divertimento das crianças e o regresso à infância dos adultos é uma constante nos espetáculos de teatro popular D. Roberto que percorrem o país. Nuno Correia Pinto, um dos 15 bonecreiros, diz que a reação do público é um sinal da “magia” desta forma de arte..

Nuno Correia Pinto agita os bonecos Dom Roberto no topo da guarita de pano com riscas e decoração castanha. A agitação tem correspondência na vibração de algumas crianças e de adultos que regressam à infância.

No final Nuno Correia Pinto sai da guarita com um boné na cabeça e com um olhar sorridente e curioso sobre a assistência entre aplausos.

Minutos depois explica a sensação: “tudo isto é magia porque quando estamos dentro da guarita vamos tendo alguns sinais do público. No final, com alguma frequência, quando vamos agradecer, há uma explosão de entusiamo. Parecia que não havia ninguém e de repente tenho uma multidão de pessoas com olhos a brilhar.”

Sentir este impacto é um dos motivos porque não recorre a um buraco no pano da guarita para observar a assistência. Na verdade, também não tem muito tempo para o fazer.
Fui espreitar atrás da guarita e no interior há um enorme frenesim. Um movimento permanente, em particular dos braços que dão vida aos bonecos.
Dom Roberto, o touro, o polícia, Rosa, o gigante, o diabo e muitas outras personagens das várias histórias…. entram e saem de cena e o bastão marca o ritmo da pancadaria.

Os bonecos são de madeira e é Nuno Correia Pinto que os constrói, ao contrário das outras marionetas da companhia a que pertence, o Fio de Azeite.No teatro de marionetas faço encenação e interpretação. Normalmente convido artistas, construtores de marionetas, para construírem os meus bonecos. Estes, os Dom Roberto fui eu que os esculpi.”

O repertório base é o tradicional, três a quatro histórias comuns a todos os “roberteiros” e que seguem a tradição de alguns mestres. Junta-se o espólio, que nos anos mais recentes foi descoberto, de uma recolha realizada por Henrique Delgado na década de 70.
Nuno Pinto criou algumas histórias, como por exemplo, O Bolo Refolhado, ou cruzou histórias antigas.

Henrique Delgado deu um forte contributo para a preservação desta arte de teatro popular. Outro nome relevante foi João Paulo Seara Cardoso que recebeu o testemunho de um dos últimos mestres e o passou a uma nova geração que hoje, quase uma quinzena, afirmam os Dom Roberto e que ganharam outro reconhecimento com a classificação de Património Nacional Imaterial.

“Tive o grande privilegio de aprender com um dos últimos mestres, João Paulo Seara Cardoso, fundador do Teatro de Marionetas do Porto e foi um timoneiro da contemporaneidade das marionetas em Portugal.”

Tal como muitos outros roberteiros a sua porta de entrada neste universo foi através das marionetas.
Nuno Correia Pinto é director artístico d’O Chão de Oliva – Centro de Difusão Cultural em Sintra, fundada em 1987 e que envolve duas companhias, uma de teatro outra de marionetas, a Fio de Azeite.

Nuno Correia Pinto e o teatro D. Roberto: “tudo isto é magia” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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