O Museu do Automóvel de Vila Nova de Famalicão é um deslumbramento, mesmo para quem não tem um especial apreço por carros, porque nos transporta para um universo de memórias pessoais ou familiares.  A história do século XX retratada por automóveis. Deparamos com surpresas.

Num edifício com um salão enorme e muito alto temos uma vista de conjunto de mais de uma centena de automóveis da exposição permanente e que têm um vasto registo temporal.

“Basicamente do século XX. Do aparecimento do automóvel até ao pico da evolução do motor térmico. Temos representadas as várias fases e influências do século XX. Desde as tecnológicas à influência da guerra. Está tudo patente na evolução automóvel.

A descrição é de Amadeu Melo e Silva é o curador do Museu do Automóvel de Vila Nova de Famalicão e uma das surpresas é uma pequena coleção de veículos construídos depois da II Guerra Mundial. A necessidade obrigou a improvisar. A falta de recursos foi ultrapassada com engenho. “São micro carros.

Os aliados venceram a guerra, mas economicamente quem a venceu foi os Estados Unidos. A Europa ficou destruída e com poucos recursos.
Daí que, na mesma época, enquanto os carros americanos aumentavam de tamanho, os europeus diminuíram. Havia falta de material.

Recorreram a outros matérias como lonas, tecidos de aviões, motores de rega que existiam na parte agrícola. Alguns são mistos de aço e madeira. Outros têm pedais porque frequentemente o combustível terminava e era preciso pedalar.”
São meia dúzia de exemplares e fascinam pelo improviso, os materiais a que recorrem e apelam à imaginação de como seria conduzir estes pequenos automóveis de dois lugares.

Em exposição estão alguns veículos raros. O museu abriu as portas em 2013. A propriedade é de várias empresas e do Clube Automovel Antigo e Classico de Vila Nova De Famalicão.
No vasto acervo do museu, “comprado não há nenhum. Alguns são doados, outros são de outros museus e associações estão em depósito. Outros são de amigos que cedem os carros.”

Vemos uma grande diversidade de automóveis. Alguns foram nossos contemporâneos, mas a grande maioria são modelos históricos. É o caso de alguns exemplares do Ford T que partilham o efeito de deslumbramento com outros carros que fazem parte da galeria de relíquias da produção automóvel.

Mas também há situações muito particulares, como um carocha, com carroceria e estofos feitos com 15 mil maços de tabaco.

“Foi uma brincadeira. Tem a base mecânica e a plataforma do carocha. Toda a carroçaria é em maços. Ele trabalhava até o motor ter sido retirado”.
A quase generalidade dos carros estão preparados para andar e “os mais antigos são mais fáceis de por a trabalhar porque têm cabos. Não têm borrachas, parte hidráulica.. Estão sempre aptos.”

As paredes do edifício têm muitos cartazes, fotografias, anúncios e logos de empresas associadas ao universo automóvel. Na coleção permanente vemos ainda bicicletas e motorizadas. É uma imersão que provoca reações diversas. “Depende da faixa etária.

Os com mais idade recordam carros que tiveram ou familiares. Os mais novos ficam admirados com alguns pormenores como por exemplo jantes de madeira, faróis de fora ou as cornetas.”

O acervo do museu é maior. Quase o dobro dos carros em exposição e tende a aumentar.
Uma das razões apontadas por Amadeu Melo e Silva é que “as novas gerações cada vez menos gostam de automóveis. Por exemplo, hoje em dia muitos jovens não têm a preocupação nem querem tirar a carta de condução. Têm alternativas e não sentem a necessidade da mobilidade.”

Talvez a região de Vila Nova de Famalicão, que se afirma como a Capital do Automóvel Antigo, seja uma exceção.
“Em Famalicão sempre houve muitos carros. Tem a ver com a industrialização. As novidades vinham sempre cá ter e tínhamos acessos a carros. Mesmo que não fosse para andar, apenas para ver. “

Amadeu Melo e Silva curador da coleção

Um dos objectivos do museu é abrir as portas às escolas e tem duas associadas. Uma de educação rodoviária do 1º e 2º ciclo onde a aprendizagem é feita numa mini-cidade.
A outra escola é de restauro automóvel, uma actividade com muita procura, “principalmente em Portugal.

Os artesãos portugueses são muito bons e devido ao custo de vida compensa virem carros de outros países da Europa para aqui, para serem restaurados. Ficam bons e mais em conta.”

Próximo da saída, além dos automóveis desportivos, há ainda mais de uma centena de relógios de parede que pertencia a uma coleção de uma antiga fábrica em Famalicão.


As preciosidades do Museu do Automóvel de V. N. Famalicão faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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