A rua de Santa Maria fica na zona antiga do Funchal e é uma galeria de arte ao ar livre. As portas, e agora algumas paredes, estão decoradas com pinturas murais que transformaram radicalmente uma zona marginalizada e que é agora um dos lugares mais procurados da cidade.

A rua de Santa Maria é estreita, empedrada, onde por vezes temos de passar em fila indiana, entre mesas dos inúmeros restaurantes.
É muito procurada e um dos motivos é por se ter tornado, há cerca de uma década, uma galeria de arte a céu aberto.

Em particular nas portas de habitações e comércio, pintadas com diversos temas. Por vezes a pintura conjuga-se com as paredes laterais ou com taipais que escondem a entrada de edifícios abandonados.

São pinturas abstratas, figurativas. Aludem à atividade comercial, residentes, etnografia, animais, ou a figuras conhecidas como Amália e Alfredo Marceneiro, numa travessa onde há estabelecimentos dedicados ao fado.

Estas já são mais recentes porque o projeto iniciado em 2011 por proposta de um fotografo espanhol, José Maria Montero Zyberchema, e designado

Projecto artE de pORtas abErtas na zona Velha de Funchal incentiva qualquer pessoa a colaborar no processo criativo, para além dos artistas convidados.

O número 1 tem um desenho na porta de madeira, já corroída pelo tempo, que perspetiva a rua. É o desenho de uma janela com vista para a rua de Santa Maria.

Um pouco mais à frente, no edifício do número 13, pintado de amarelo, a porta do 13-A tem o desenho de um anjo branco a vigiar os sonhos de um jovem que se vê a dormir entre montanhas pintadas em tons carregados de verde e castanho.
Vários olhos andam soltos pela cena. Vigiam ou vagueiam. A obra é da autoria de Rodrigo Quintal e Maribel Jardim e o dono da porta é Ricardo António.

“É o desenho de anjos e gosto muito da porta. Dizem é das mais bonitas da rua. Os meus amigos quando me visitam adoram a porta e dizem que os anjos do desenho pareço eu. A casa é tradicional. Foi onde nasci.”

Percebe-se de imediato que Ricardo António tem um grande carinho pela porta e pela pintura que está bem preservada. “Limpo e faço a manutenção. A casa está velhinha mas bem cuidada. Resido aqui com a minha irmã, ela também nasceu aqui.”

No relato do promotor do projeto, de início houve alguma relutância dos residentes, mas pouco a pouco, sentiu-se que era forte o impulso para mudar a imagem de uma zona estigmatizada. “Antigamente as pessoas tinham medo de passar aqui.

Havia prostituição, droga… Eu quando andei na escola e dizia que era da rua de Santa Maria já era desprezado. Agora não, é fino. Toda a gente diz que tem um familiar na zona velha do Funchal.”

A mudança numa década foi profunda e hoje é marcada por restauração e serviços.

O colorido das portas atrais muitos visitantes que, com telemóveis e máquinas fotográficas registam algumas pinturas e, noutros momentos, tentam interpretar poemas que estão inscritos em portas e paredes.

Alguns turistas saboreiam as refeições ao lado de retratos de figuras populares da região autónoma, de símbolos do Marítimo, discos colados na porta de um bar ou de pinturas que apostam na sedução.

O sucesso alargou-se a ruas vizinhas e espaços abertos onde a criatividade se exprime de forma descomprometida e de portas abertas, como o nome do projeto que esteve na base da revitalização da rua de Santa Maria.

As pinturas nas portas que deram nova vida à rua de Santa Maria no Funchal faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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