O bairro de Troino, com as suas cores vivas, o “algarviar” dos restaurantes e o movimento permanente de visitantes, são alguns dos traços marcantes de um dos bairros mais característicos da cidade de Setúbal.

Cecília Martinez, que vive no Troino há cerca de 44 anos, que este é o “Bairro Alto” de Setúbal. Tem uma identidade própria e ainda preserva marcas da comunidade piscatória quando Cecília foi acolhida no Troino.

“Ainda há pessoas dessa altura. As que chegam adaptam-se ao modo de vida daqui.
A arquitetura mantém-se. A praça só modificou porque retiraram a âncora que estava no centro e colocaram o assador. Quando vim havia muita taberna e muitos homens no mar. Agora, barcos não há e o ambiente das tabernas, o jogo às cartas… isso vai acabando.”

Cecília faz um retrato mais focado no que é hoje o Troino, “um bairro virado para o turismo. Alugam casas. Algumas eram habitações velhas que foram adaptadas. No centro de Troino há poucas pessoas idosas a morar.”

O centro do bairro, a praça Machado dos Santos, também conhecida por Fonte Nova, é das zonas mais procuradas. O assador de que Cecília falava, um grelhador comunitário, é o principal responsável. É onde se concentram vários restaurantes especializados em pratos com peixe. Cecília Martinez é proprietário de um desses restaurantes.

O largo preserva também casario com traça antiga e um dos ícones é a Mercearia Confiança de Troino que tem mais de um século.
No entanto, o que mais se destaca são as esplanadas dos restaurantes.

A praça Machado dos Santos é o coração do bairro. “O pessoal que está nas casas alugadas vem aqui tomar o pequeno almoço e almoçar. Logo de manhã, começa a ver-se aqui muita vida. Residentes e turistas.”

Cecília Martinez também se deixou seduzir pelos encantos de Troino. “Sou de ascendência espanhola. Vim aqui parar por amor. O meu marido é de Troino.”

A gastronomia é um dos legados da cultura local, muito marcada pela comunidade de pescadores que se estabeleceu no bairro.

Na altura, era uma zona periférica do núcleo central da cidade e com a vantagem da proximidade ribeirinha. Foi o bairro de acolhimento de muitos pescadores algarvios que deixaram outro legado: a pronuncia do Charroco, caraterizada pelo acentuar dos “erres”. Hoje desvaneceu-se. “Já se ouve pouco. Só por brincadeira. Há um rapaz que goza com o antigamente”.

Podemos ver em algumas paredes e mobiliário urbano algumas dessas frases. Partilham a atenção dos visitantes em conjunto com o casario que, lentamente rejuvenesce e outro muda de mãos e de rostos. Um dos mais ilustres foi a cantora lírica Luísa Todi que nasceu na Rua da Brasileira.

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