A melhor forma de descobrir Aveiro é num passeio de barco.
Faz todo o sentido porque a cidade tem como embrião os canais da ria e é natural a sua relação com a água.
Há várias empresas a fazer os passeios e a grande maioria é nos barcos moliceiros, uma das três embarcações tradicionais que, curiosamente, não era a mais frequente em Aveiro.
Diz o mestre Marco Neves, da Aveiro Emotions, que “era raro ver um moliceiro no centro da cidade. Habitualmente via-se duas vezes por ano em Aveiro. Para limpar os canais e nas festas em honra de Santa Joana.”
A embarcação tradicional que estava sempre na cidade era o saleiro mercantel. Servia para o transporte de sal das marinhas até aos armazéns e para transporte de mercadorias.
No passeio de barco navegamos num canal que nos revela alguma deste património, designadamente das marinhas. Um dos pontos de passagem é a marinha da Troncalhada, uma das nove que está a funcionar e que é também um Ecomuseu propriedade da Câmara Municipal de Aveiro.
Joel, o nosso guia, levou-nos ainda ao canal de S. Roque para ver a bonita ponte de Carcavelos que era usada pelos locais quando iam às salinas.
A construção original é de 1942 mas caiu. A que vemos é a reconstrução de 1953. É muito colorida e no centro, a verde, tem o brasão da cidade de Aveiro. A ponte fica próximo do único armazém de sal.
Um edifício grande, de madeira, junto ao canal. É o único que continua a funcionar. Por detrás há um palheiro típico ainda original. Há mais três, mas foram adaptados para outras funções. Ao lado estão antigos armazéns de sal que também servem agora para outros fins como por exemplo uma academia de bailado.
O passeio oferece-nos também uma perspetiva interessante de outra característica muito particular da cidade de Aveiro: a Arte Nova. Aveiro é considerada a Capital da Arte Nova em Portugal. Existem 28 edifícios com influência deste movimento artístico. “Cada um tem as suas características, mas todos têm os elementos comuns à arte nova: construção em pedra trabalhada, azulejos pintados à mão e utilização de ferro forjado ou fundido.”
Um dos edifícios de Arte Nova mais surpreendente é a antiga Capitania do Porto de Aveiro ou Casa dos Arcos. Na verdade, a sua origem é uma fábrica de moagem e tem vários arcos na base por onde era canalizada a água porque funcionava com moinhos de maré. É um edifício grande, cor de rosa, está classificado como Imóvel de Interesse Público e após ter sido recuperado pelo Município desempenha a atividade de galeria de arte e é a sede da Assembleia Municipal. É um dos edifícios emblemáticos de Aveiro.
A primeira parte do percurso termina num canal artificial, junto à fábrica Jerónimo Pereira Campos, um enorme edifício em tijolo onde sobressaem as chaminés dos fornos da cerâmica que iniciou atividade no final do século XIX. É onde funcionam os Paços do Concelho e o Centro Cultural e de Congressos.
O passeio de barco num moliceiro dá assim a conhecer uma grande variedade do património da ria e da cidade e para os turistas é motivo de comparação – “os visitantes gostam do barco, das cores e do folclore e ficam surpreendidos com o que a cidade através dos seus canais tem para oferecer. Assemelham muito a Veneza.”
A descoberta da cidade só fica completa em terra.
Com a prova dos ovos moles numa das muitas pastelarias que oferece o doce típico de Aveiro e que não tem qualquer comparação com Veneza.
A programação dos canais da Ria em Aveiro faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:
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