A torre de Centum Cellas é tão bela como enigmática. A 26 de Abril volta a ganhar brilho e solidez, após um processo de restauro.
Os 12 metros de altura da construção de pedra e com enormes aberturas nas quatro paredes fazem da torre uma construção única na Península Ibérica.
No dia do feriado municipal de Belmonte a torre de Centum Cellas vai estar requalificada e melhor preservada, de forma a garantir a sua estrutura, rasgada pelo vento.
Parece uma construção fantasma que se agiganta com pedras viradas para o céu, mas ao mesmo tempo é frágil e desengonçada, com muitas pedras desalinhadas. Se algum dia teve uma função defensiva perdeu de todo essa natureza porque surge instável e indefesa em relação ao vento.
Por exemplo, Mário Clara, quando era criança pouco andou por lá. “Na altura havia o receio que pudessem cair algumas pedras e não deixavam ir as crianças. Agora colocaram peças para estabilizar a construção”.
Após uma intervenção mais profunda, com reconstituição de zonas de risco de queda de pedras e também depois de uma ação de limpeza, a torre de Centum Cellas ganha nova vida e atratividade com a criação de um centro interpretativo no terreno vizinho. O centro vai ter informação sobre a torre e inclui achados arqueológicos.
O proprietário da Centum Cellas terá sido um romano endinheirado, negociante de estanho e estima-se que casa foi construída no séc. I. As escavações arqueológicas realizadas há duas décadas revelaram que não era uma casa qualquer. A “villa” tinha muitas construções.
Nas escavações foram encontrados alguns objetos, designadamente moedas. Evidenciam que seria um entreposto comercial de uma via romana.
O enigma é ainda maior porque a torre foi incendiada dois séculos depois de ser construída. Mais tarde fizeram algumas alterações. Acrescentaram um piso e algumas pedras foram aproveitadas para uma capela que, entretanto, desapareceu no séc. XVIII. A capela era dedicada a São Cornélio porque havia uma lenda que o santo esteve aqui encarcerado, entre cem celas, explicação para o nome Centum Cellas.
A área está protegida com um gradeamento, mas podemos aceder ao interior e verificar como o espaço envolvente da torre está repleto de ruínas de várias construções.
Mário Clara, nasceu e vive em Colmeal da Torre, e testemunha que há muita gente de fora que vem descobrir a torre enigmática. “Chega muita gente em autocarros. Tiram fotografias”.
De certa forma, manifestam um interesse que as pessoas de Colmeal da Torre já consideram comum e que lhes desperta mais atenção quando de momentos festivos. “Costumam lá tirar fotografias quando de casamentos e batizados”.
No âmbito do processo de descentralização, a gestão de Centum Cellas passou para o município de Belmonte em 2020.