No próximo domingo, dia 8 de março, realiza-se em Ovar uma das celebrações religiosas mais relevantes da cidade. Iguais há poucas em Portugal.
Procissão em Ovar ©CM Ovar
É a procissão dos Terceiros que em Câmara de Lobos, na Madeira, se chama de Cinzas porque se realizou na quarta-feira de cinzas. Na Ribeira Grande realizou-se no domingo passado. Na cidade açoriana da ilha de S. Miguel tem o nome de Senhor Santo Cristo dos Terceiros.
Em Mafra, realiza-se dentro de duas semanas, no quarto domingo da Quaresma e é designada por procissão de Penitência da Ordem Terceira de São Francisco.
Na pequena mas histórica aldeia de S. Vicente da Beira há quatro museus e um deles, o da Ordem Terceira de S. Francisco, guarda as imagens que saem de quatro em quatro anos na procissão Penitencial dos Terceiros. “Os terceiros é uma ordem que existe em S. Vicente da Beira. Eles têm 14 andores com 14 quadros da vida de santo e da vida de Cristo. A procissão dá a volta à povoação com essas imagens muito antigas”. Representam várias cenas. “O quadro do Paraíso terrestre, Adão a ser tentado pela serpente, S. Francisco a receber as 5 chagas de Cristo”.
A descrição é de António José Conceição, fotojornalista e membro do Grupo de Estudos e Defesa do Património Cultural e Natural da Gardunha, GEGA.
Na generalidade dos casos a procissão é com 14 andores que são de imagens tutelares da Ordem Terceira de S. Francisco. Em Mafra a organização é da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento (que recebeu a Irmandade dos Terceiros após a extinção das ordens religiosas) e levam uma dezena de andores e quatro deles evocam a vida de S. Francisco de Assis, como por exemplo, o pedido a Jesus para fundar a Ordem.
Em quase todos os locais a origem está associada à existência de um convento franciscano que, posteriormente deu origem a irmandades no século XVIII.
A disciplina e a penitência associada aos franciscanos estão na génese destes rituais que remontam igualmente ao século XVIII e que eram marcadas por elementos cénicos mais marcantes como a auto-flagelação em público, o açoitamento, coroas de espinhos e o transporte da cruz. No final do século XIX a penitência em público dos irmãos franciscanos ficou mais ligeira e hoje o que é mais difícil é carregar nos ombros os andores “porque em alguns andores vão duas ou três imagens e ficam muito pesados. Em S. Vicente da Beira, um deles é transportado por oito pessoas.”
Na Ribeira Grande, nos rituais que têm inicio no “Museu Vivo do Franciscanismo”, surgiram nos últimos dois anos os encapuçados que procuram retomar o espírito da penitência.
Na quase totalidade dos casos a procissão dos Terceiros é a primeira do período da Quaresma e a tradição é haver mais três procissões até à Páscoa.
Sobre este tema ver o livro/tese As imagens de Vestir da Procissão dos Terceiros: um legado fransciscano em S. Miguel, Açores, Séculos XVII a XXI de Duarte Nuno Chaves, investigador e professor Universitário nos Açores. O estudo foi distinguido com o Prémio da academia Portuguesa de História m 2018.
A penitência franciscana dos Terceiros faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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