A Fábrica da Baleia do Boqueirão, em Santa Cruz das Flores encerrou em 1981 e trinta anos depois, quando da musealização, foi ainda encontrada farinha de ossos no crivo do moinho que deu para encher duas sacas.

César Rosa, técnico do Museu aponta para as duas sacas que ainda lá estão, junto a enormes máquinas de um complexo sistema que aproveitava a carne de cachalote.
site_boqueirao_3762O cetáceo era levado para o porto que fica a umas dezenas de metros da fábrica, no final da rua.
O cachalote era rebocado para o porto do Boqueirão. Era içado para fora da fábrica e depois era desmanchado. Uma das etapas deste longo processo era separar a cabeça do corpo para tirar o óleo que tinha um valor de mercado muito alto.
site_boqueirao_DSCF6854Posteriormente, quando do aproveitamento quase integral do cachalote, passaram a produzir farinha de carne e de ossos.
Na fábrica trabalhavam cerca de uma dezena de pessoas. No dia em que chegava uma baleia havia mais gente. Não era um trabalho fácil.

Fábrica da Baleia do Boqueirão
Fábrica da Baleia do Boqueirão

A Fábrica da Baleia do Boqueirão foi uma aposta de um empresário de Almada e começou a funcionar em 1944. Foi no decorrer da Segunda Grande Guerra, numa altura em que o mercado mundial tinha grande procura de produtos derivados da baleia porque as principais estruturas baleeiras tinham sido destruídas.
site_boqueirao_DSCF6819A fábrica encerrou em 1981 e em 1986 Portugal proibiu a caça à baleia. Em 2015 as instalações foram abertas ao público como museu tendo sido acrescentado um piso onde podemos ver instrumentos da baleação.

Fotos da vigia às baleias
Fotos da vigia às baleias

Das várias abordagens abordadas na exposição detalhada César Rosa destaca a história da baleação e a forma como se desenrolava todo o processo a partir da vigia às baleias. Há ainda um vídeo de cerca de 20 minutos. É um documentário feito na década de 70 por um francês que esteve numa base militar nas Flores e que é uma excelente ferramenta para se perceber todo o processo.

Bote baleeiro
Bote baleeiro

Foram ainda recuperados dois botes baleeiros e ocupam uma zona nobre do museu. Ajudam a dar a perspectiva de como era uma embarcação frágil perante as adversidades do mar e a dimensão dos cachalotes.

Antigos baleeiros
Antigos baleeiros

Há também informação sobre o contexto social e económico que levou muitos açorianos a fazerem parte das tripulações de barcos norte-americanos. Houve nas Flores (a ilha açoriana mais próxima dos EUA) um grande movimento em relação à baleação porque no final do século XIX, inicio do século XX, era muito dificultada a emigração. Às escondidas das autoridades muitos açorianos embarcavam clandestinamente e vinha muita gente de outras ilhas para “darem o salto para a América”.

site_boqueirao_4614Ao contrário de outras instalações baleeiras que se degradaram devido ao abandono, a Fábrica do Boqueirão está bem preservada porque o espaço foi utilizado pela Câmara Municipal como armazém e oficinas e isso permitiu a manutenção das máquinas.
São dois pavilhões muito grandes com uma chaminé muito alta.

Cais do Boqueirão
Cais do Boqueirão

Um pouco mais baixo, próximo do mar, estavam os tanques onde se guardava o óleo de cachalote que era exportado e servia para iluminação pública.

Entrada do Centro de Interpretação Ambiental do Boqueirão
Entrada do Centro de Interpretação Ambiental do Boqueirão

Onde estavam os tanques funciona hoje um Centro de Interpretação Ambiental.
site_ambiente_boqueirao_DSCF6880Está muito dirigido para a vida marítima e um dos objectivos é a sensibilização ambiental.

Uma mudança profunda de paradigma tendo em conta que em cerca de meio século foram mortas cerca de 12 mil baleias nos Açores.
Esta mudança de paradigma é espelhada no Museu e de certa forma em todo o arquipélago que aposta no Turismo de Natureza.

César Rosa, técnico do Museu
César Rosa, técnico do Museu

Na opinião de César Rosa, a seu modo, o Museu ajuda a mostrar essa mudança: “a visita para muito é uma surpresa e, em alguns casos é sentida de forma desagradável. Na verdade a preservação da natureza e a baleação “não casam bem”. O que é um facto é que se trata de um museu, de uma história que se conta sobre o passado e hoje as ilhas estão focadas noutro tipo de actividade como a observação de baleias. “O mundo não é igual à altura em que caçávamos baleias.
Hoje em dia já não faz sentido e até há mais rendimento com o turismo de natureza do que com a caça de cetáceos. A visita permite que as pessoa saiam do museu mais tranquilas.”

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Este programa contou com ajuda à produção da Ilha Verde Rent a Car

Fábrica da Baleia do Boqueirão faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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