A vista do miradouro da Sapinha em Março é fabulosa devido à flor das amendoeiras e ao brilho dos rios Douro e Águeda, no vale profundo, em frente de Barca d’Alva. No restantes meses é enganadora. O brilho da natureza ofusca o esquecimento.
site_barca_dalva_miradouro_0242Toda a presença humana em Barca d’Alva é passageira e fugaz. Só permanecem as serras e os rios Douro e Águeda. A perene obra da natureza.
Do trabalho dos homens os vestígios revelam o contrário.
site_barca_dalva_DSCF0827Passam todos os dias turistas e barcos, mas Barca d’Alva pouco mais é do que ancoradouro, ponto de passagem.
No passado foi a vez dos comboios. Uma linha internacional com a aldeia a ser a última estação antes da passagem da fronteira. Faz parte do passado.
site_barca_dalva_0266Foram também embora os residentes e a presença dos mais novos é igualmente fugaz. Maximino Cruz disse-nos que “vim para aqui em maio de 83. Trabalhava na agricultura. Era amendoeiras, oliveiras, vinha …o que fosse preciso. Fazia hortas e regava, coisas assim. Trabalho na agricultura ainda há só que o pessoal já é pouco.”
site_barca_dalva_0268Maximino Cruz estava a passear o cão junto ao Douro. Aproveitava uma sombra e a passagem de alguns visitantes.
site_barca_dalva2_hdrDescobrem a vida bucólica da pequena aldeia cujos limites são definidos pelo rio Águeda que se vai juntar ao Douro, a fronteira com Espanha e a margem direita do rio Douro.
Um pouco antes de chegarmos, na estrada proveniente de Figueira de Castelo Rodrigo, o miradouro Alto da Sapinha oferece-nos uma perspetiva de conjunto.
site_barca_dalva_miradouro_0238Encostas repletas de vinha e amendoeiras e no fundo do vale profundo, o pequeno casario de Barca d’Alva ofuscado pelo brilho do Douro e pela ponte rodoviária, que é outro excelente miradouro. Ao lado da travessia do Douro vemos o cais dos barcos de cruzeiro.
site_barca_dalva_DSCF0829No testemunho de Maximino, “os tripulantes, os que trabalham no barco, ficam aqui. Os turistas vão passear lá para cima. Para Figueira, Almeida, Pinhel e Espanha. Aqui na Barca só fica o pessoal, os que fazem a limpeza dos barcos.”

Algumas décadas atrás o grande movimento era por comboio. Também foi fugaz. A ligação internacional a Espanha fechou em 1988 e voltámos ao tempo da barca.
site_barca_dalva_comboio_DSCF5185“Atrasou ainda mais. Porque os comboios vinham do Porto e vinha também o espanhol até aqui. O cruzamento era na estação de Barca d’Alva.” Com o final da ferrovia voltou a estagnação e o abandono.

site_barca_dalva_comboio_DSCF5186A ponte ferroviária atravessa o rio Águeda e o acesso está repleto de vegetação de plantas silvestres. Podemos fazer uma breve caminhada na ponte, apesar de estar fechada. Fica um pouco antes da foz do rio Águeda

Foz do rio Águeda no Douro
Foz do rio Águeda no Douro

(até o rio é esquecido em Portugal, apesar de fazer de fronteira durante quase meia centena de quilómetros com Espanha.) Só pela paisagem vale a pena a descoberta da ponte ferroviária e fazer a travessia a pé.
site_barca_dalva_comboio_0255Outra obra ferroviária que gera uma reação mista, de encanto e desolação devido ao abandono, é a estação de comboios. Maximino resume bem: “a estação é muito bonita mas está toda abandalhada.”
site_barca_dalva_comboio_0253Acrescenta que foi vandalizada, “arrebentaram as portas, levaram algumas coisas..sanitas, levaram muita coisa.” Um cenário oposto à descrição de Eça de Queiroz quando Jacinto, d’ A Cidade e as Serras”, regressa a Portugal: “Era uma Estação muito socegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes-e outras rosas em moitas, n’um jardim, onde um tanquesinho abafado de limos dormia sob duas mimosas em flôr que rescendiam.”
site_barca_dalva_comboio_DSCF5193As duas plataformas de madeira, junto ao cais, ainda devem ser originais e é pena não serem restauradas. São mais um testemunho de como tudo é encantador e fugaz em Barca d’Alva.
Fala-se em retomar a ligação ferroviária para incentivar a vinda de espanhóis.
site_barca_dalva_comboio_0247“Ao fim de semana vem muita espanholada. A fronteira é além e tem um cais para os barcos. Fazem passeios no Douro. ”
Um das épocas mais sedutoras para visitar Barca d’Alva é em meados de Março.
site_barca_dalva_miradouro_DSCF5171Quando as amendoeiras ficam em flor e decoram de branco as encostas das serras entre Escalhão e Barca d’Alva. Quando é a altura da flor da amendoeira fica muito bonito. Em Março é costume haver uma feira, chamam festa, mas é uma feira da Flor da Amendoeira.”
site_barca_dalva_hdrO manto branco da flor da amendoeira faz concorrência aos tons outonais da vinha. Enquanto os homens tornam fugaz a passagem por Barca d’Alva, a natureza preserva o encanto das serras e dos rios.
site_barca_dalva_DSCF5205O miradouro da Sapinha e dos dois rios por onde passa a Barca d’Alva faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

Ver Roteiros no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

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