Na garganta do rio Ocreza, pouco depois da nascente, os romanos extraíram ouro e o metal precioso está na origem do nome do rio que aqui ainda tem o estatuto de ribeira.
Mais recentemente, um do sustento de muitas famílias que viviam nesta zona da serra da Gardunha, entre Casal da Serra e a Torre, era a produção de farinhas em moinhos e azenhas.
Estamos num dos extremos da serra da Gardunha, numa zona muito arborizada e com vários cursos de água. Parte deles confluem para o fio de água que ganha dimensão conforme desce as encostas da serra e que primeiro tem o estatuto de ribeira e mais tarde de rio Ocreza.


Entre um leito granítico e uma vegetação densa foram muitas as azenhas construídas. “Tínhamos 38 azenhas e moinhos. Eram azenhas de famílias que tinham sete a oito filhos e algumas até dez, mas tudo isto acabou.”
Manuel Lucas Antunes acrescenta que “cada azenha tinha um nome. Ali, no local do Inferno, há três azenhas. Uma é a azenha do Inferno, a que fica no meio é a do Purgatório, e a terceira é a do Paraíso. As outras mais para cima também tinham nome.”

As azenhas eram uma importante fonte de receitas, para quem tinha muito pouco. “Naquele tempo não havia fábricas para moer os cereais e era tudo feito nas azenhas. Os moleiros tinham burros, cavalos e carroças e iam buscar as sementes longe. Por vezes dormiam por lá e só vinham no dia seguinte. Era uma multidão de gente, para baixo e para cima. Infelizmente, hoje não há ninguém. Isto acabou. Deixaram cair as azenhas. Só está a minha reparada, mais nada.”

Passagem sobre a ribeira da Ocreza para a casa de Manuel Lucas Antunes

Manuel Lucas Antunes vive mesmo ao lado do rio Ocreza, na Torre, uma aldeia da freguesia de Louriçal do Campo. “Eu fui criado ali num sitio onde lhe chama o cabouço. Os meus sogros eram os donos da azenha.”

A azenha que era dos sogros fica um pouco acima (40°02’47.0″N 7°31’37.8″W).
Juntou dois engenhos, recuperou as construções de pedra e a passagem da água envolve o lugar com um som permanente.

No interior estão dois rodízios movidos pela água que passa no exterior e é um torno que faz mover o engenho. As mós têm caraterísticas diferentes. O picado de uma delas é mais saliente. “Também moía centeio quando queriam fazer as matanças dos porcos. Para as farinheiras que são feitas com gordura dos porcos e como não havia farinha, faziam com farinha centeia. O pão centeio era lavado e seco ao sol. Depois era moído aqui para a farinha ficar mais branca. Com esta farinha é que se fazia o enchido das farinheiras.”

Perante a escassez de alimentos tinham de encontrar alternativas e muitos eram obrigados a caminhar longos quilómetros. “Vinham aqui de vários lados. Há uma terra chamada Paradanta, que fica para além de S. Vicente, a distância é de cerca de 12 km. Vinham a pé com uma talega de sementes para dar a moer nestas azenhas. Iam e vinham a pé.”

Hoje há pouca gente na aldeia da Torre. Alguns emigraram, como fez Manuel Lucas Antunes que aos 21 anos de idade partiu para França.

O movimento que se regista hoje é para passeios, designadamente para as piscinas naturais, duas delas um pouco acima da azenha. “Agora vem para aqui muita gente. Do Louriçal do campo, há passeios.”  Inês Ferreira, que estava junto do avô do namorado, acrescenta que há “percursos pedestres sinalizados.

Também há um passeio normalmente organizado pela junta que é a Rota das Levadas ao longo da ribeira. Há também uma prova do trail que é Os Trilhos da Gardunha, que também passam por aqui. Vai ficando conhecido e agora com as redes sociais as pessoas vão pondo as fotografias e a localização”.

Ver Roteiros no concelho de Castelo Branco

A farinha das azenhas do Inferno, Purgatório e do Paraíso … na Torre faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *