Talhas enormes, algumas com dois metros de altura, estão alinhadas junto a paredes de pedra num ambiente sombrio e fresco de algumas adegas de Vila de Frades .
A vila autointitula-se Capital do Vinho de Talha e é vizinha da Vidigueira.

Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua

É um dos locais mais interessantes para se observar uma forma de produzir vinho introduzida pelos romanos, há dois mil anos.
Ao percorrermos as ruas da Vila de Frades encontramos várias adegas que recebem visitantes.

Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua

Outras juntam a valência da restauração e num caso foi criado a Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua, um  espaço recuperado e que reconstituiu a adega original e a prática de produção de vinho de talha.

Foi a atividade profissional de Inácio Parreira durante 36 anos. “Transportavam as uvas para a adega. A uva era moída e seguia para a talha para sedimentar. Fermentava e quando ficava líquido o vinho era tirado e seguia para outras talhas já limpas.”

Inácio Parreira

Esta primeira fase era um processo longo e exigente. “Demorava, no mínimo, três meses. As talhas cheias eram tapadas. Para evitar a queda de detritos do telhado porque era de telha vã. Era o ideal para o vinho respirar na fermentação e saírem os gases pela telha.”

Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua

Após a fermentação o vinho era retirado por uma torneira e colocado noutra talha. Depois de limpo o vinho ficava debaixo de azeite, de um tampo de azeite. A talha era tapada com madeira. Colocava-se o azeite para proteger o vinho e aguentava-se de um ano para outro.”

Inácio Parreira lembra-se ainda de outra condição para o vinho ser comercializado. Tinha de atingir os 12.5 graus. “Tendo esses graus já não precisava de mais nada. Era só tapar de azeite até que fosse vendido a retalho em pipas. Iam para Beja, Cuba, Vidigueira….”

Parte do consumo também era local. “Nessa altura, quando eu trabalhava, havia muitas adegas. Agora só há uma. Os taberneiros como se dizia, recolhiam a uva para depois venderem o vinho ao balcão. Nessa altura era mais o branco. Agora já há quem tenha muito tinto.”
Dizem que o vinho de talha tem um sabor especial. Uma textura e aroma diferente.


Na altura do vinho novo muita gente vem a Vila de Frades fazer a prova. Ainda há uma dúzia de adegas com vinho de talha, depois de uma profunda queda há cerca de seis décadas. “O patrão onde trabalhei 20 anos faleceu. O outro tinha um café que encerrou e começou a enviar as uvas para a Cooperativa da Vidigueira. Acabou.”

Nos últimos anos foi retomado o interesse pela produção do vinho de talha.
Em moldes ainda familiares e de reduzida dimensão porque é um processo muito oneroso e demorado em comparação com os meios industriais.

“As talhas eram muito antigas. Estavam empinadas, em fila indiana. Eram lavadas em pé porque eram muito pesadas. Uma pessoa ia lá para dentro e lavava três a quatro vezes com água, até ficar limpa. Quando estavam lavadas e enxutas com um pano colocava-se uma mecha, um fumo de enxofre, para tirar algum mau gosto da talha.”

Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua

Este processo tradicional de produção de vinho com talha foi adaptado em diversos locais. Mais de duas dezenas de municípios desenvolveram uma proposta conjunta para ser classificado como Património Imaterial da Humanidade pela Unesco.
O primeiro passo foi dado com o registo na lista nacional.
O município da Vidigueira, que está a liderar o processo de candidatura criou há cerca de dois anos o Centro Interpretativo em Vila de Frades que pretende valorizar esta prática milenar.

Próximo da igreja destaca-se uma pequena habitação com três lápides na fachada. Foi aqui que nasceu o escritor Fialho de Almeida.

Um outro lugar de interesse, provavelmente o ponto de partida da prática local do vinho de talha, são as ruínas de uma vila romana que na época medieval foram adaptadas para convento. O espaço museológico está aberto para visitação.

Adega-Museu Cella Vinaria Antiqua

Vila de Frades a Capital do Vinho de Talha  faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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