Há pouco mais de um século o comboio parava em Barca d´Alva numa “estação muito socegada, muito varrida, com rosinhas trepando pelas paredes”. É assim que Eça de Queiroz descreve, pelos olhos de Jacinto de A Cidade e as Serras, a entrada em Portugal de comboio na Linha do Douro.
Hoje o cenário é completamente diferente. A única semelhança é a reação de espanto.
Há cerca de três décadas a estação encerrou, hoje está ao abandono e é o antigo cais de madeira que preserva a beleza do passado
São dois pavilhões e mantêm o ondulado das tábuas no telheiro. Ondulam ao vento. Estão esventrados, resta a estrutura de madeira.
Pouco se vê da linha férrea devido ao mato.
A estação fica numa zona recuada da aldeia e ao longe os edifícios que mais se destacam são os construídos em alvenaria.

O maior é a plataforma giratória, onde as locomotivas faziam a inversão de marcha, e a gare do gabinete do chefe da estação.
O único brilho é o das letras douradas coladas na parede da estação a anunciar Barca d´Alva.
A estação é muito bonita mas está toda abandalhada. Arrebentaram as portas, levaram algumas coisas..sanitas, levaram muita coisa” diz com desalento Maximino Cruz que vive em Barca d´Alva desde 1983, cinco anos antes do encerramento da ligação ferroviária.

Maximino Cruz ainda partilhou alguns momentos áureos de Barca d´Alva com o movimento da linha internacional do Douro, um eixo fundamental para o Porto e toda a região do Douro Vinhateiro. O encerramento começou do lado espanhol e mais tarde, em 1988, com o fim da ligação entre Barca d´Alva e o Pocinho. Foi cerca de um século depois de a estação de Barca d´Alva começar a receber passageiros (1887).
Parou o comboio e voltou-se ao tempo da barca. “Atrasou ainda mais. Porque os comboios vinham do Porto e vinha também o espanhol até aqui. O cruzamento era na estação de Barca d’Alva.”

A ponte ferroviária que fazia a ligação a Espanha está repleta de plantas silvestres. Podemos fazer uma breve caminhada e há mesmo a Rota dos Túneis, um percurso pedestre pela linha ferroviária desde Espanha, La Fregeneda, até ao Pocinho.
A ponte ferroviária de Barca d´Alva oferece-nos também uma vista única da foz do rio Águeda no Douro.
A ponte tem cerca de uma dezena de metros de comprimento e do outro lado há um cais com barcos espanhóis que fazem passeios no Douro.

Um pouco antes, a montante do rio Águeda, está a ponte rodoviária, construída em 1999, por onde passam os visitantes espanhóis. Em época normal, “ao fim de semana vem muita espanholada. A fronteira fica do doutro lado do rio. Também tem um cais para os barcos e fazem passeios no Douro”.

O rio Douro e a ferrovia foram meios de comunicação essenciais para a vida das comunidades locais, muito centradas na produção de vinho.
Há vários anos que há a expectativa de reativar e eletrificar a linha ferroviária, pelo menos até ao Pocinho. Mais indefinida é a ligação até Barca d´Alva e Espanha. Há contactos ibéricos para um projeto direcccionado para o turismo.

Para alem da beleza natural e da paisagem, classificada pela Unesco como Património da Humanidade, a estação de madeira pode voltar a ser “uma Estação muito socegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes-e outras rosas em moitas, n’um jardim, onde um tanquesinho abafado de limos dormia sob duas mimosas em flôr que rescendiam. Um moço pallido, de paletot côr de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio.”

Ver Roteiros no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo

A estação de comboios de Barca d’Alva continua “socegada” porque está abandonada faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

O Vou Ali e Já Venho tem o apoio:Af_Identidade_CMYK_AssoMutualistaAssinaturaBranco_Baixo

Comments

No comments yet. Why don’t you start the discussion?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *