Faz 500 anos este sábado, 28 de Novembro, que as naus da primeira viagem de circum-navegação concluíram a travessia do oceano Atlântico para o Pacífico, revelando a comunicação marítima entre os dois continentes.
Fernão de Magalhães comandava a nau Vitória e deu o nome de Pacífico ao oceano que avistava porque o mar estava calmo e sereno.
A travessia entre os dois continentes, (hoje a rota rodoviária é designada de “Fim do Mundo”) é por um estreito marítimo que separa o continente americano da Ilha do Fogo.
Pelo feito inédito a passagem, de cerca de 600 km, ficou com o nome de Estreito de Magalhães.
Mesmo na atualidade, com tecnologia sofisticada, é uma navegação difícil. Frio, vento, tempo instável, um percurso sinuoso e com algumas ilhas que são refugio de pinguins. Uma delas é um lugar turístico, a Pinguinera.
Nesta viagem partiram de Sevilha 31 portugueses, mas só 4 concluíram a circum-navegação.
O próprio Fernão de Magalhães acabou por morrer num combate com uma tribo nas Filipinas.
A forte presença de portugueses neste projeto da coroa de Castela deveu-se às competências que muitos portugueses desenvolveram nas áreas da náutica, cartografia e cosmografia.
Um desses centros de conhecimento era na Covilhã como avança Elisa Pinheiro, investigadora de história contemporânea da Universidade Nova e antiga diretora do Museu de Lanifícios da Covilhã. “Temos de considerar que em toda a II Dinastia, desde D. João I até D. Sebastião, os físicos e astrólogos da corte são da Covilhã ou estão relacionados com covilhanenses. São relações que mantêm ao longo da vida com outros homens de ciência que também nasceram na Covilhã, naquele berço de cristãos novos.”
Dois deles, os irmãos Faleiro, eram da Covilhã e seguiram com Fernão de Magalhães para Castela, Planearam a viagem de circum-navegação e desenvolveram instrumentos náuticos.
Rui Faleiro fez uma sociedade com Fernão de Magalhães e ambos receberam do rei o estatuto de Capitão Geral da Armada e comendadores da Ordem de Santiago.
A parceria não correu bem. Os irmãos Faleiro acabaram por não embarcar. Há várias conjeturas. Rui Faleiro teria enlouquecido ou na observação dos astros um presságio ditou-lhe uma morte violenta. Historiadores como Luis Filipe Thomaz, referem a pressão exercida sobre o rei para diminuir a influência de portugueses na viagem e, por outro lado, Fernão de Magalhães poderia duvidar dos cálculos de Rui Faleiro para se definir a longitude.
O que não era despiciente porque o propósito da viagem era mostrar que as ilhas Molucas, muito importantes por causa da exploração do cravinho e sob controlo comercial dos portugueses, estariam localizadas na parte do reino de Castela, seguindo as coordenadas do Tratado de Tordesilhas.
Há também de acrescentar um ambiente de intriga, (como aqui descrito) por vezes provocado por espiões da corte portuguesa, com intuito de boicotar a viagem.
Francisco Faleiro acabou por ficar em Sevilha e é autor do Tratado del Esphera y del Arte de Marear.
A participação dos irmãos Faleiro na viagem de circum-navegação é tema de uma exposição na Biblioteca Municipal da Covilhã, na qual Elisa Pinheiro é curadora cientifica. Na toponímia da Covilhã há também uma rua como nome de Rui Faleiro.
Este polo de conhecimento da física e cosmografia na Covilhã está particularmente associado a uma das maiores comunidades de cristãos novos na zona de fronteira “que têm um papel relevante no conhecimento necessário para o movimento de expansão.”
É ainda de ter em conta que na altura, séculos XV e XVI, a separação entre os dois reinos era difusa e que muitos fizeram os seus estudos em Castela, então potência continental. O próprio Rui Faleiro estudou em Salamanca.
Os conhecimentos, as viagens, a rede de contactos. Abria-lhes portas nos dois reinos. Como acrescenta Elisa Pinheiro, “os melhores iam para a corte. Eram colocados pelas vias judaicas. Singravam em Lisboa. Depois, quer em Sevilha ou em Lisboa e nos contactos de uma rede europeia, apreendiam conhecimento. Na I Dinastia trabalharam com os reis portugueses mas depois ofereciam os seus préstimos aos reis de Espanha. É uma situação que era muito caraterística daquele período.”
Desta comunidade de cristãos novos da Covilhã há ainda uma figura maior: Pero da Covilhã, o espião que foi até à India recolher informação sobre o percurso do caminho marítimo que, poucos anos depois, foi seguido com sucesso por Vasco da Gama.
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Covilhã: o berço dos cosmógrafos da circum-navegação faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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