A praia e o cais de Samouco formam um refúgio que nos remete para um ambiente natural, mesmo em frente de Lisboa. A azáfama de quem anda na apanha de moluscos bivalves faz esquecer a antiga rotina do transporte de produtos agrícolas para Lisboa. Ao final do dia o pôr do sol oferece-nos um olhar diferente de Lisboa, mesmo ao lado da Ponte Vasco da Gama.

O cais de Samouco é um pequeno refúgio porque a vista é para a grande cidade. A ponte Vasco da Gama e a base aérea nº6 cercam esta parte do estuário do Tejo onde terminam as salinas.
No verão a praia é muito frequentada, o cais de pedra é apenas para espreitar o rio e o cais palafitico tem uso irregular.

A maré oferece pequenas ilhotas e é permanente a presença de aves. Algumas já esperam por Manuel Carvalho que nasceu no Samouco há 70 anos e todos os dias visita o cais. “Os patos vêm aqui comer, já estão ensinados. Dou de comer todos os dias. Também aos gatos e pássaros.”

Algumas das aves protegem-se depois nas cerca de duas dezenas de palafitas que terminam suspensas no rio. Estão também ladeadas de pequenos barcos.

Por vezes alguns homens caminham próximo das estruturas de madeira já gasta, outros andam no meio da água e puxam a embarcação com uma corda. Regressam da apanha da ameijoa.

Ao longo do estuário ficam espalhados outros barcos numa atividade que a melhor vista é-nos oferecida quando atravessamos a ponte Vasco da Gama.

A apanha intensiva de ameijoa e o próprio cais palafitico são relativamente recentes, em contraponto ao cais de pedra, entretanto restaurado, e que marca muito a história de Samouco.
“O cais era assim. Não estava tão bem arranjado como agora, mas sempre teve este formato. Estas pontes em madeira não existiam, são recentes.”

O que é hoje uma zona de lazer foi até meados do século passado um lugar de grande azáfama porqiue “o cais era essencialmente para transporte de mercadorias. Antigamente, nos tempos dos barcos grandes à vela era aqui que vinham as carroças com fruta. Colocavam em cestos dentro dos barcos. Iam para Lisboa e depois traziam outras coisas de lá. Era o dono do barco mais um ajudante que andavam nesses barcos à vela.”

O Samouco tinha terrenos muito férteis e hoje, em alguns locais, ainda encontramos vestígios da atividade agrícola. Há algumas décadas atrás era a principal atividade económica.

“Toda esta zona era agrícola e, por exemplo no tempo do meu pai, quando não havia trabalho no campo, iam apanhar ameijoas. Muitas vezes o nosso comer eram ameijoa, ostras e berbigão. Não havia muita gente a pescar. Naquele tempo havia dois ou três que viviam apenas da pesca no rio. O resto era tudo no campo.”
Um dos terrenos mais férteis era onde hoje está instalada a base aérea e se projeta o aeroporto, “antes de ser a base era tudo semeado. Batatas, cebolas, cereais, arvores de fruto.”

Os terrenos eram enriquecidos com murraça, algas que eram transferidas na praia dos barcos para carroças.
Enquanto a poluição industrial não contagiou o estuário a apanha massiva de ostras foi outra fonte de receitas.

Agora nem os barcos tradicionais resistiram. “Há esses pequenos como pode ver. Algum curioso que vai à pesca. Há um ou dois que ainda vive da pesca e vão ao rio. O resto é de pessoas que andam a apanhar ameijoa.”

Agora Manuel Carvalho partilha o tempo da reforma com alguns dos animais que o aguardam diariamente, à espera de comida e a ver a vista que me pareceu mais interessante ao pôr do sol. Com uma luz mais amena a vista fica bonita e “quando o tempo está bom avista-se Lisboa e, por vezes, quando há lua grande está mesmo por cima da ponte Vasco da Gama.”

Cais palafítico e do pôr do sol no Samouco faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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