Arlindo Reis é sapateiro, no nº26 da rua da Madalena em Faro, e o “Batata” é o seu companheiro fiel. O pato-mudo avisa quem chega e por vezes acompanha o dono num passeio por Faro.

É o próprio Arlindo Reis que se apresenta à porta da oficina: sou conhecido pelo “sapateiro do 26” e pelo pato que anda atrás de mim aos sábados e domingos quando passeio em Faro, nos dias em que está bom tempo.”

Arlindo Reis estava no interio da oficina quando da nossa passagem. À porta estava o pato. Vigilante. “É o Batata, mas chamamos mais como Batatinha porque é assim que os miúdos o tratam quando lhe fazem festas.

Tem 5 anos (tive outro como este que morreu com cerca de 10 anos). No fundo do rés do chão fiz um resguardo, com uma rede, onde ele dorme.”
A rua é estreita, fica no centro histórico de Faro e quem passa por aqui com frequência é identificado.

“Conhece as pessoas da rua. Tem uma reação quando passa alguém que não fala e reage de outra forma quando gosta de alguém.
Eu percebo logo que vem aí gente conhecida. Uma das características das pessoas que gosta muito é ir puxar os atacadores.”

No meu caso, a ganga elástica das calças resistiu às bicadas e os atacadores dos ténis ainda correram o risco de irem ao sapateiro.
O pato queria atenção, em especial de Arlindo Reis.


Anda constantemente a trás de mim. Por vezes não larga as calças e tenho de o mandar para a porta. Quando o deixo muito tempo no resguardo fica danado comigo. Por vezes levo-o até à ria. Vai numa alcofa porque eles não podem andar durante muito tempo.”

A rádio e o pato são uma distração e companhia nas pausas no trabalho, que por vezes são horas seguidas. “Há muito pouco serviço. Passam dias e semanas que não há novo trabalho para fazer.

Vem por vezes alguém com algum problema nos sapatos.
Sou sapateiro há cerca de 30 anos e de há mais ou menos 20 anos para cá que o serviço tem piorado.”

A oficina fica no rés do chão de um edifício com a data de 1870 registada na fachada.
O som da rádio enche todo o espaço, assim como memórias.

Do Vitória de Setúbal, fotografias de cantores de ópera e também bustos em gesso. É ele que faz os trabalhos, sem moldes. Resultam da experiência de muitos anos a moldar o gesso como estucador.

O “sapateiro do 26” e o pato mais conhecido de Faro faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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