Camilo Castelo Branco raptou Ana Plácido, foram julgados por adultério e, anos depois, o casal foi morar para a casa mandada construir pelo antigo marido da segunda mulher de Camilo. Foi também aqui que o escritor morreu, junto do seu “amor de perdição”. O enredo é camiliano e ainda hoje desperta a curiosidade de milhares de visitantes à Casa de Camilo, distinguida como um dos melhores museus nacionais.

É uma casa museu, mas rapidamente esquecemos a perspetiva de museu. A vivência que temos é, simplesmente, a casa de Camilo Castelo Branco. “Para que o visitante possa ter a impressão de que está a visitar a casa de Camilo que está ausente porque foi a Famalicão tomar café.”

A descrição é de José Manuel Oliveira é o diretor da Casa de Camilo em S. Miguel de Seide, concelho de Famalicão. O escritor viveu aqui de forma regular entre 1863 até à sua morte em 1890.

“A permanência de Camilo neste local trouxe para a literatura portuguesa uma dimensão extraordinária. Ao conviver com pessoas fora dos centros urbanos, o Portugal profundo camiliano, Camilo trouxe para as suas obras muitas das histórias da paisagem física e humana da região.

Não é hoje possível conhecer o Portugal oitocentista sem conhecer as páginas de Camilo Castelo Branco. Tendo vivido no Norte de Portugal, principalmente no Douro e Minho, Camilo conseguiu espelhar na sua obra o quotidiano destas pessoas.”

A propriedade murada, um terreno agrícola e a casa a saborear o sol do Minho são a âncora dessas vivências que podemos descobrir de forma mais íntima no interior da habitação.

Percorremos os dois pisos rodeados pelo imaginário camiliano. Como se estivesse ali, nos quartos, na cozinha, na sala onde jantava com os amigos ou no escritório marcado pela serenidade da luz natural que entra pelas janelas.

“As pessoas sentem esse calor da casa. Não se trata tanto de reproduzir a casa de alguém que já morreu, mas antes de transmitir ao visitante a memória viva das pessoas que ali habitaram.”
As visitas são sempre guiadas o que nos ajuda nas referências pessoais e literárias das novelas de Camilo.

Por outro lado, descobrimos também a reconstituição da casa que foi destruída por um incendio. A reconstrução foi em 1922, por um grupo de amigos e começou aqui a Casa Museu. Algumas décadas depois, (nos anos 50) com a gestão do município de Vila Nova de Famalicão, foi retomada a versão inicial da casa.

“No final da década de 40, inicio da década de 50, a casa foi reconstruída tão próxima quanto era do tempo de Camilo. Na altura era viva uma nora de Camilo que indicou onde e como seriam as divisões internas. Essa casa é a que se oferece hoje aos visitantes.”
Na procura de se afirmar como uma memória viva do escritor e da sua obra, a Casa de Camilo leva-nos ainda a calcorrear alguns dos caminhos que inspiraram o escritor.

É o Trilho Cangosta do Estevão, entre Landim e S. Miguel de Seide. “Vamos junto ao rio e passamos por alguns locais que Camilo materializou nas suas obras. É o caso da azenha de Maria Moisés. Embora esta novela decorra em Ribeira de Pena, ela foi inspirada numa senhora que morava perto da casa de Camilo. Depois passamos na casa onde viveu a Marta, a Brasileira de Prazins. Antes de chegarmos ao mosteiro de Landim passamos na casa que foi habitada por António José Pinto Monteiro, o protagonista da novel O Cego de Landim.”

A Casa de Camilo organiza outros roteiros. O conjunto de atividades que promovem é um convite à leitura de Camilo. “A avaliação que as pessoas fazem é muito positiva nesse sentido. Fomos nomeados pela Associação Portuguesa de Museologia o melhor museu português em 2006.

Em 2007 fomos nomeados para o prémio de melhor museu da Europa., Somos a casa museu de um escritor mais visitada em Portugal. Temos entre 15 a 25 mil visitante. Já tivemos 30 mil visitantes. É reflexo do trabalho que se vai fazendo.”

A estas atividades juntam-se as componentes de intervenção cultural e científica desenvolvida pelo Centro de Estudos. Sublinhe-se ainda o significativo acervo camiliano.
O edifício do Centro de Estudos foi inaugurado em 2005, é da autoria do arquiteto Siza Vieira, e está próximo da Casa de Camilo.

A perdição da Casa de Camilo faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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