Dizem que é o primeiro restaurante do mundo a vender leitão assado à Bairrada. O Pedro dos Leitões é também uma história notável de como um jovem que, depois de ter emigrado no Brasil, regressa com um projecto que afirmou um prato gastronómico que se transformou numa marca nacional.

Tudo começou com um pequeno estabelecimento à beira da estrada.
O Pedro dos Leitões continua ao lado da antiga estrada nacional nº1, na zona da Mealhada. Ao longo da rodovia encontramos dezenas de outros restaurantes que oferecem como prato principal o leitão à Bairrada.

Uma marca gastronómica que começou há 80 anos, em 1941, quando Álvaro pedro abriu uma mercearia e uma taberna.
“Onde hoje é o parque de estacionamento havia uma pequena mercearia que ele alugou. Tinha meia dúzia de mesas. Vendia sandes de leitão e cervejas do poço. Não havia frigorifico. Eram refrigeradas dentro de um cesto de vime ou numa caixa dentro da água do poço e estavam frescas.”

Felipe Castela ao lado do busto de Álvaro Pedro

Felipe Castela é neto de Álvaro Pedro e acrescenta que este foi sempre um sonho do avô. “Ele sempre quis estar à frente de um projeto de restauração ou hotelaria. Em Portugal chegou a trabalhar no Hotel Palace da Curia. Depois foi para o Brasil, para ganhar algum dinheiro. Trabalhou na restauração e quando voltou montou o negócio.”

Álvaro Pedro

Havia algum risco. Na altura o leitão à Bairrada era desconhecido fora da comunidade local e na Estrada Nacional 1 havia pouco movimento. “Estamos em 1941. Mas o objetivo era esse, apanhar os poucos automobilistas que passavam aqui.”

Foi uma aposta ganha e igualmente foi pioneiro na passagem para a restauração de um prato regional que era consumido apenas em épocas festivas. “O prato de leitão é secular e não se pode dizer que é um prato português. É do Mundo. Praticamente todos os países têm um prato típico com leitão. Na Bairrada há muitos anos que se fazia este prato.
O meu avô não inventou nada. O que ele fez foi pegar num prato típico, confecionado na altura de festas, e passou-o para a restauração porque não havia nada nesta zona.”

Com o negócio a prosperar abriu 8 anos depois o restaurante no mesmo local onde continua hoje. “O meu avô era um empreendedor.
A ideia dele foi sempre fazer crescer o restaurante. Além do primeiro restaurante fez outra sala. Entretanto morreu, mas nós, o meu pai e os três filhos, fizemos a terceira sala. Neste momento temos capacidade para sentar 430 pessoas.”

Felipe Castela sublinha que nestes 80 anos, no que se refere à coinfecção do prato, tudo se mantém igual. A única diferença é a redução da quantidade de sal no tempero que não é segredo. “O que é segredo é a quantidade dos ingredientes. O molho do leitão assado à Bairrada é pimenta branca, pimenta preta, alho, sal grosso e banha de porco.”

Além do condimento, uma outra particularidade do leitão à Bairrada tem a ver com o forno. “É em fornos tradicionais de tijolo, refratário, e o aquecimento é a lenha, com vides.
Antigamente era com cascas de eucalipto, mas agora isso não é possível. Usamos vides, cepas, lenha que tem um poder calorifico muito grande e que arde muito rápido.”

Também esta prática de se assar o leitão se repete há 80 anos e o tempo de confeção nem sempre corresponde à vontade do cliente. “Quando as pessoas chegam aqui e já não há leitão, têm de entender que este processo não é igual a um bife ou frango assado.
Assar um leitão demora cerca de duas horas. Desde preparar o leitão que têm em média 4 kg, condimentar, e o forno estar em condições, isto demora cerca de duas horas.”

O leitão à Bairrada habitualmente é servido com salada e batata frita. Uns preferem o leitão quente, outros frio. Felipe Castela é prático na resposta: “o leitão deve ser consumido como o cliente gosta.”
Mas também tem as suas preferências. “pessoalmente acho que o leitão, desde que seja bom, pode ser consumido quente ao frio, mas vir diretamente do forno para a mesa é completamente diferente. Quando é bom come-se de qualquer maneira. Requentado é não. Há quem o volte a aquecer, mas eu isso não recomendo.”


A pandemia introduziu alterações à rotina. O habitual, em particular aos fins de semana, era uma procura muito grande nos restaurantes ao longo da estrada.
No caso do Pedro dos Leitões permanece uma grande diversidade de clientes. “Todo o tipo. Famílias com os avós, filhos e netos. Não há diferença de idades, estratos sociais. Todo o tipo de gente e todo o cliente é importante.”

Na entrada várias fotografias ilustram a história do restaurante e como Álvaro Pedro transformou o leitão à Bairrada numa marca gastronómica nacional.
O busto de Álvaro Pedro, que ficou conhecido como Pedro dos Leitões, está também na entrada, continua a dar as boas vindas aos clientes, agora do outro lado da estrada onde tudo começou com a pequena mercearia e taberna.

Pedro dos Leitões: das sandes à beira da estrada à projeção nacional do leitão à Bairrada faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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