A rua Augusta de Lisboa, como muitas outras ruas de cidades ou aldeias ficam nestes dias com o aroma da castanha assada e do fumo que nas noites frias ganha a estranha forma de um nevoeiro quente. A envolver vendedor e clientes. Há 44 anos que Fátima Pinto faz parte deste cenário no cruzamento com a rua de S. Nicolau.

O S. Martinho tem de ter castanhas. Com ou sem água pé para se provar o vinho novo, mas castanhas tem de haver. “Elas são boas cozidas, assadas, fritas, mas nada é como as assadas no nosso carvão.”

Fátima Pinto
Fátima Pinto

Qual o motivo? Fátima Pinto, com a sua larga experiência responde de imediato: “é especial, é mais forte e depois é também a maneira de virar, o corte adequado da castanha, a quantidade de sal, o lume não pode estar muito vivo em cima. Tem de estar mais vivo em baixo e acumular em cima para ficarem assim branquinhas, tostadinhas e saborosas.”

A técnica, parece, é muito apurada e “há pessoas que não as põem tão bonitas como outras, mesmo os que assam castanhas há bastantes anos”.

Encontrei Fátima Pinto a vender as castanhas assadas na Baixa de Lisboa. “Eu asso castanhas há 44 anos. Sempre no mesmo sítio. Estive na estação Sul-Soeste e depois aqui, Rua Augusta com a S. Nicolau.”
Muitos anos e imensas pessoas que já passaram pela sua venda ambulante!.
Os sabores de  Inverno  que acompanharam as significativas mudanças da Baixa nestas quatro décadas.

“Eu gostava mais do antigamente. Das lojas antigas e do comércio antigo. Agora mudou. Acabou a habitação, surgiram os hostels, muitas pastelarias, mas também há mais turismo.” Muitos turistas são seus clientes e “dizem que são boas as castanhas e lá vão”

Alguns aquecem as mãos com as castanhas, mas Fernando Pinto abandonou essa prática. “Fiz isso alguns anos e o resultado não foi muito bom. Fiquei cheia de artroses.!
Agora, com frequência, vai rodando as castanhas assadas ou coloca sal no assador e vê-se o carvão em brasa, mais vivo ainda, com as fagulhas provocadas pelo efeito do sal.

Com paciência apura a forma como estão a ser assadas as castanhas que o fornecedor lhe entrega e que têm qualidades diferentes. “São de várias zonas. As primeiras eram do Minho, estas são da Beira Alta e termina com as de Trás-os-Montes que são as melhores.”

Vendedor no Terreiro do Paço
Vendedor no Terreiro do Paço

Vende uma dúzia por 3 euros. A nós fez um desconto. Todas enroladas num cone de papel branco. A tradicional folha de jornal também aqui entrou em desuso. “Agora é este papel. Em tempos era nas páginas amarelas.

Depois proibiram e querem o papel branco, pelo menos de um lado. Assim como os carros. Têm de ser em inox. Foi um pouco atualizado, mas ficou a parte antiga, o sistema de assamento. É uma tradição antiga.”

Chiado, Lisboa
Chiado, Lisboa

Quando falei com Fátima Pinto não fazia muito frio. O negócio corria lentamente, como a paciência exigida para assar as castanhas.
Agora, com o S. Martinho e os dias menos quentes, o cruzamento da Rua Augusta com a de S. Nicolau deve estar perfumado de castanha assada.

Fátima Pinto vende castanhas assadas na Baixa de Lisboa há mais de 40 anos faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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