A adrenalina exprime-se logo no inicio do percurso. Numa encosta ingreme, dois homens, designados de carreiros, correm e empurram o carro de vime que ganha velocidade ao longo da descida.
Pequenos gritos de entusiasmo são seguidos de respiração expectante, no final da rampa, na primeira de muitas curvas apertadas.

Pouco depois de nos sentarmos no carro de vime e após os primeiros andamentos ouvimos o ranger da madeira.
De seguida os dois carreiros posicionam-se atrás do carro e com o balanço do corpo orientam a direção do nosso bólide que vai atingir cerca de 25 quilómetros hora.

Quando a velocidade é maior, ou aproxima-se uma curva, um dos homens inclina o corpo e uma das botas serve de travão. “As botas são os nossos travões. As solas são feitas com parte de pneu dos carros.”

Pedro Marote, um dos Carreiros do Monte, garante que as botas “são eficazes na travagem.
Melhor do que nos automóveis. Nenhum carro de cesto bateu na parede.”

O início do percurso é na freguesia do Monte. Paramos dois quilómetros depois, na estação do Livramento.
A viagem demora cerca de 7 a 8 minutos.
É sempre a deslizar porque o suporte dos carros de cesto são duas barras de madeira que funcionam como patins.
Na minha viagem ainda colocaram gordura nas barras de madeira para o carro deslizar com mais facilidade.

A velocidade é sentida com a trepidação e o aproximar das curvas fechadas no meio de descidas ingremes sem passeios. Só com muros a delimitar o caminho.

Pedro Marote tem uma longa experiência como carreiro. Com ele nunca ninguém quis desistir a meio da viagem, embora algumas pessoas lhe manifestem receio.
Há pessoas que têm medo, mas costumam dizer logo de início e nós vamos mais devagar. Comigo nunca ninguém ficou a meio da viagem. Apenas uma pessoa que aproveitou para ficar no lugar onde estava alojado.”

Pedro Marote

Os carros de cesto do Monte é uma das maiores atrações do Funchal.
Por ano, são milhares de turistas que desfrutam desta experiência. Pedro Marote já viajou com pessoas de todos os continentes. “Estou aqui há 10 anos. Todos os dias. Sábados e Domingos, caso chegue algum barco de cruzeiro. Já transportei gente conhecida e de muitas partes do mundo.”

Os carreiros vestem-se de branco com o típico chapéu de palha e as botas também claras.
Além do esforço físico, têm de ter perícias e muita atenção ao desempenho do carro de vime.

“No início é complicado. É preciso habilidade e leva tempo a apanhar o jeito e conhecer o comportamento do carro. Temos de saber fazer força com as botas, correr ao lado e fazer força para o companheiro. Leva o seu tempo a aprender.”

Pedro Marote, com outras dezenas de carreiros, fomentam a adrenalina de turistas, mas no início do século XIX o carro de cesto era um meio usual para quem queria descer da freguesia do Monte até próximo do centro do Funchal.

A paragem na nossa viagem é no Livramento e o caminho até à baía do Funchal faz-se bem a pé.
Ao contrário, quem queira ir do centro do Funchal até ao Monte, tem a alternativa do teleférico.

É um excelente miradouro e à chegada tem uma vista panorâmica do Funchal. Neste roteiro um dos lugares de visita obrigatória é o jardim Monte Palace Madeira.

Funchal: “velocidade furiosa” num carro de cesto faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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